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quarta-feira, 24 de fevereiro de 2010

Res Cons Fed Med 1938/10 - Med Ortomolecular (1)

Como havia prometido aos meus alunos e ex-alunos que me contatam diariamente por E-mail, e que são numerosos desde a época do IMO (1992) com meu querido mestre Prof. Helion Póvoa, passando pelos Congressos de Medicina Ortomolecular (1991-2000) e agora na Universidade Veiga de Almeida (coordenação do Prof. Walter Taam), fiz uma análise técnica da Resolução que dispõe mudanças sobre a Medicina Ortomolecular. Aí vai:

  1. É muito oportuna a revisão da Resolução anterior (1500/98). Nesta Resolução 1938/2010 a abordagem me pareceu mais correta, filosófica e tecnicamente.
  2. Entretanto, há alguns aspectos que podem ser questionados. O primeiro deles se encontra enunciado no "Considerando" nº 8. Pessoalmente discordo da afirmação de que há dificuldade na transposição de dados de experimentações animais (...) para a clínica diária.
  3. Se assim o fôsse o embasamento farmacológico que permitiu o desenvolvimento de novos fármacos de 1910 até 1980 não teria mostrado valor, e sabemos, na prática, que isso não é verdade.
  4. Os testes com animais apontam - e apontaram - com bastante acerto o comportamento de um fármaco (ou veneno!) no ser humano, inclusive com coeficientes matemáticos calculados com precisão para estabelecimento das LOAEL (low oral adverse effect level) e NOAEL (no oral adverse effect level), parâmetros fundamentais para avaliação de risco de qualquer substância química, inclusive medicamentos.
  5. As LOAEL e NOAEL são estabelecidas, na maior parte, com base nos dados com animais, complementada com dados humanos, quando disponíveis. São elaboradas pela Environmental Protection Agency (EPA) e publicadas pela National Academic Press, dos EUA, admitidas como referências neste campo.
  6. Por outro lado, a literatura médica apresenta incomensurável volume de estudos de prospecção terapêutica, seja com nutracêuticos ou fármacos, embasados em estudos animais. Principalmente considerando que, antes dos anos 1970, os estudos clínicos com humanos eram pouco disponíveis. Essa mesma literatura prova CABALMENTE que patologias humanas (ex: ateroesclerose, osteoporose, doenças hepáticas, etc...) são perfeitamente reproduzíveis em animais, mediante as mesmas condições etiológicas!
  7. Existiram exceções na história, uma delas registrada com pesar, como o caso da talidomida. Neste episódio a ciência adicionou ao seu conhecimento o fato de que ratos e camundongos são muito resistentes à teratogênese por agentes químicos: neles a droga não havia revelado esses efeitos. Há controvérsias, entretanto, sobre a metodologia adotada naquela ocasião, especialmente no que tange ao número de animais utilizado.
  8. De qualquer maneira, sabe-se a partir daí que outros animais mostram sinais de teratogênse compatíveis com análise de risco para humanos: coelhos e, confirmatoriamente, primatas (chimpanzés).
  9. Além disso a Farmacologia serve-se ainda dos experimentos animais para: 1) definição de indicações terapêuticas de uma nova droga, (2) orientação das doses a serem utilizadas nos experimentos clínicos com humanos.
  10. No passsado recente esta mesma ciência serviu-se dos estudos com animais para estabelecimento direto das doses para uso humano (e com bastante precisão!). Quase um século de Terapêutica Médica foi embasado nos experimentos com animais, obtendo-se na clínica resultados muito satisfatórios!
  11. Bem ao contrário (embora excepcionalmente), estudos com HUMANOS também mostraram resultados inesperados na clínica diária, como os casos dos fármacos CERIVASTATINA, ETORICOXIBE e ROFECOXIBE. Estes medicamentos, que passaram por apurados experimentos clínicos em humanos, apresentaram na CLÍNICA DIÁRIA efeitos colaterais graves que levaram à morte diversos pacientes.
  12. Assim, pelo exposto e muito mais ainda que o espaço não torna exequível publicar aqui, permito-me discordar do "Considerando" nº 8.
Amanhã continuaremos a análise, agora do corpo de texto da citada Resolução.


Celio Mendes.

sexta-feira, 12 de fevereiro de 2010

REFRIGERANTES x CÂNCER DE PÂNCREAS

Artigo super recente (fev 2010) retoma o tema da ingestão de bebidas açucaradas gaseificadas e o risco de câncer pancreático (clique na figura para ampliar).

Outros estudos anteriores já haviam levantado suspeita sobre isso, mas não chegaram a ser tão conclusivos como o estudo ao lado.
Considerando que a disponibilidade de açúcar refinado em nossa sociedade aumentou tremendamente o consumo de glicose pura (sacarose=2 glicoses) e que tudo isso tem pouco mais de 100 anos (!) podia-se esperar que surgissem alterações mórbidas no órgão que responde pela produção de insulina, o pâncreas.
O estímulo para o aumento na produção desse hormônio, mediante aumento na carga de açúcar da dieta, já foi verificado, sem mais dúvidas.
Trabalhando o pâncreas em excesso surge o diabetes II, ou por gradativa falência pancreática ou por saturação dos receptores insulinérgicos (resistência à insulina).
Estudos anteriores já haviam encontrado indícios de que tais refrigerantes podiam induzir o câncer pancreático (1 e 2), mas outro não concluiu dessa forma (3).
Possivelmente o câncer de pâncreas aparece como mais uma decorrência do desenfreado consumo de açúcar da sociedade moderna.
O teor do estudo considera alguns tipos de refrigerantes, mas é preciso levar em conta, também, que essas bebidas contém diversos outros componentes além do açúcar: colorantes, acidulantes (ác. fosfórico), aromatizantes, todos artificiais.
De qualquer maneira, o estudo concluiu: "O consumo de refrigerantes com a regularidade de duas vezes por semana aumentou a incidência de câncer do pâncreas". Foram observadas mais de 60 mil pessoas por 14 anos. É um dado que não podemos desconsiderar!
Aí estão os links para consulta de vocês.

Abraços a todos, amigos e ex-alunos.
Celio Mendes.

Medicina Ortomolecular e Texto Resolução CFM

Abaixo, o texto da Resolução.
Abraços a todos, amigos e ex-alunos.
Celio Mendes.
RESOLUÇÃO CFM Nº 1.938/2010

D.O.U. de 5 de fevereiro de 2010, seção I, p. 161

Estabelece normas técnicas para regulamentar o diagnóstico e procedimentos terapêuticos da prática ortomolecular e biomolecular, obedecendo aos postulados científicos oriundos de estudos clínico-epidemiológicos.

O CONSELHO FEDERAL DE MEDICINA, no uso das atribuições conferidas pela Lei n° 3.268, de 30 de setembro de 1957, regulamentada pelo Decreto n° 44.045, de 19 de julho de 1958, respectiva e posteriormente alterados pela Lei nº 11.000, de 15 de dezembro de 2004, e Decreto nº 6.821, de 14 de abril de 2009, e

CONSIDERANDO que o alvo de toda a atenção do médico é a saúde do ser humano, em benefício da qual deverá agir com o máximo de zelo e o melhor de sua capacidade profissional;
CONSIDERANDO que ao médico cabe zelar e trabalhar pelo perfeito desempenho ético da Medicina e pelo prestígio e bom conceito da profissão;
CONSIDERANDO que é dever do médico guardar absoluto respeito pela saúde e vida do ser humano, sendo-lhe vedado realizar atos não consagrados nos meios acadêmicos ou ainda não aceitos pela comunidade científica;
CONSIDERANDO que é vedado ao médico divulgar informação sobre assunto médico de forma sensacionalista, promocional ou de conteúdo inverídico;
CONSIDERANDO que é vedado ao médico usar experimentalmente qualquer tipo de terapêutica ainda não liberada para uso em nosso país, sem a devida autorização dos órgãos competentes e sem o consentimento do paciente ou de seu responsável legal, devidamente informados da situação e das possíveis consequências;
CONSIDERANDO a crescente divulgação, entre a população, de novos métodos terapêuticos baseados no emprego de substâncias visando o equilíbrio celular, e a insuficiente comprovação científica de algumas dessas propostas;
CONSIDERANDO a existência de extensa literatura científica sobre radicais livres, substâncias antioxidantes e nutrição humana;
CONSIDERANDO a dificuldade da transposição de informações originadas de dados de experimentações realizadas em animais ou em sistemas, órgãos, tecidos e células isoladas para a prática clínica diária;
CONSIDERANDO os riscos potenciais de doses inadequadas de produtos terapêuticos, tais como algumas vitaminas e certos sais minerais;
CONSIDERANDO a necessidade de definir limites de emprego, indicações e critérios científicos para a aplicação de procedimentos associados à prática ortomolecular;
CONSIDERANDO o que preceituam as Resoluções nos 196/96 e 251/97, do Conselho Nacional de Saúde, que, respectivamente, contém as diretrizes e normas regulamentadoras da pesquisa envolvendo seres humanos e dispõe sobre a pesquisa com novos fármacos, medicamentos, vacinas e testes diagnósticos;
CONSIDERANDO o teor das Portarias nos 32, 33 e 40/98, da Secretaria de Vigilância Sanitária, que estabelecem normas para níveis de dosagens diárias de vitaminas e minerais em medicamento e a utilização diária pelo usuário;
CONSIDERANDO, finalmente, o decidido na sessão plenária realizada em 14 de janeiro de 2010,
RESOLVE:
Art. 1º Os termos prática ortomolecular e biomolecular, habitualmente empregados, serão considerados equivalentes quando referidos à prática clínica que visa atingir o equilíbrio entre as células e as moléculas do corpo humano.
Art. 2º A prática ortomolecular pressupõe o emprego de técnicas que possam avaliar quais nutrientes (vitaminas, minerais, ácidos graxos ou aminoácidos) podem, eventualmente, estar em falta ou em excesso no organismo humano.
Art. 3º A identificação de alguma das deficiências ou excessos mencionados só poderá ser atribuída a erro nutricional ou distúrbio da função digestiva após terem sido investigadas e tratadas as doenças de base concomitantes.
Art. 4º Medidas higiênicas, dietéticas e de estilo de vida não podem ser substituídas por qualquer tratamento medicamentoso, suplementos de vitaminas, de sais minerais, de ácidos graxos ou aminoácidos.
Art. 5º Os tratamentos da prática ortomolecular devem obedecer às comprovações embasadas por evidências clínico-epidemiológicas que indiquem efeito terapêutico benéfico;
Art. 6º Os tratamentos propostos pela prática ortomolecular incluem:
I. Correção nutricional e de hábitos de vida;
II. Reposição medicamentosa das deficiências de nutrientes;
III. Remoção de minerais, quando em excesso (ex.: ferro, cobre), ou de minerais tóxicos (ex.: chumbo, mercúrio, alumínio), agrotóxicos, pesticidas ou aditivos alimentares.

Art. 7º A reposição medicamentosa de comprovadas deficiências de nutrientes se fará de acordo com a existência de nexo causal entre a reposição de nutrientes e a meta terapêutica ou preventiva.
Art. 8º A remoção de minerais, quando em excesso, ou de minerais tóxicos, agrotóxicos, pesticidas ou aditivos alimentares se fará de acordo com os seguintes princípios:
I. O excesso de cada substância tóxica deverá ser considerado isoladamente;
II. Existência, na literatura médica, de fundamentação bioquímica e fisiológica sobre o efeito deletério do excesso da substância tóxica considerada, bem como de dados que comprovem a possibilidade de correção efetiva por meio da remoção proposta;
III. Além da melhoria dos parâmetros laboratoriais, deverá haver comprovação científica de utilidade clínica;
IV. O valor terapêutico da remoção de determinada substância tóxica deverá ser avaliado para cada tipo de distúrbio.

Art. 9º São destituídos de comprovação científica suficiente quanto ao benefício para o ser humano sadio ou doente, e por essa razão têm vedados o uso e divulgação no exercício da Medicina, os seguintes procedimentos da prática ortomolecular e biomolecular, diagnósticos ou terapêuticos, que empregam:
I. Para a prevenção primária e secundária, doses de vitaminas, proteínas, sais minerais e lipídios que não respeitem os limites de segurança (megadoses), de acordo com as normas nacionais e internacionais e os critérios adotados no art. 5º;
II. EDTA (ácido etilenodiaminotetracético) para remoção de metais tóxicos fora do contexto das intoxicações agudas e crônicas;
III. O EDTA e a procaína como terapia antienvelhecimento, anticâncer, antiarteriosclerose ou voltadas para patologias crônicas degenerativas;
IV. Análise do tecido capilar fora do contexto do diagnóstico de contaminação e/ou intoxicação por metais tóxicos;
V. Antioxidantes para melhorar o prognóstico de pacientes com doenças agudas, observadas as situações expressas no art. 5º;
VI. Antioxidantes que interfiram no mecanismo de ação da quimioterapia e da radioterapia no tratamento de pacientes com câncer;
VII. Quaisquer terapias antienvelhecimento, anticâncer, antiarteriosclerose ou voltadas para doenças crônicas degenerativas, exceto nas situações de deficiências diagnosticadas cuja reposição mostra evidências de benefícios cientificamente comprovados.

Art. 10 A indicação ou prescrição de medida terapêutica da prática ortomolecular ou biomolecular é de exclusiva competência e responsabilidade do médico.
Art. 11 O Conselho Federal de Medicina providenciará, dentro de suas atribuições legais, no prazo de dois anos, a reavaliação da metodologia científica envolvida.
Art. 12 Revogam-se todas as disposições em contrário, em especial a Resolução CFM nº 1.500, publicada no Diário Oficial da União, Seção I, página 169, em 3 de setembro de 1998.
Art. 13 Esta resolução entra em vigor na data de sua publicação.

Brasília-DF, 14 de janeiro de 2010

ROBERTO LUIZ D’AVILA
Presidente

HENRIQUE BATISTA E SILVA
Secretário-geral

sexta-feira, 5 de fevereiro de 2010

ÔMEGA 3 na PSIQUIATRIA

ÔMEGA 3 e POSSÍVEIS PAPÉIS EM PSIQUIATRIA

Um artigo publicado agora (clique na figura), em fevereiro de 2010, por Amminger & cols, retorna ao tema da suplementação dos ácidos graxos essenciais nos distúrbios psiquiátricos. Neste estudo é abordada a psicose (esquizofrenia), mas também há outros (recentes e antigos) avaliando o ômega 3 na depressão. Um dos primeiros autores a correlacionar o metabolismo do ácido araquidônico e o ômega 3 com depressão foi Adams PB, 1996 (4).


Conforme os links postados no final, vocês podem concluir que há vários anos que os cientistas estão tentando encontrar a ligação entre ômega 3 com distúrbios psiquiátricos (uma revisão interessante está no link nº 2). Alguns estudos não encontraram resultado algum, mas outros apontam os benefícios para os pacientes. Essas divergências podem ser devidas aos critérios de seleção dos pacientes, os tipos de drogas que vinham tomando, as doses usadas e a posologia (horário e condição gastrintestinal no momento da administração).
De qualquer modo, este estudo de fevereiro/2010 encontrou resultados anti-psicóticos para os suplementados com ômega 3 numa proporção jamais antes observada: 95% dos suplementados não apresentaram surtos psicóticos durante a suplementação, mas no grupo placebo 73% dos pacientes não surtaram, também. Ou seja, a diferença relativa foi cerca de 23% entre suplementados e placebo, considerando os limites de confiança estatística.
Na verdade, sabendo que as variáveis bioquímicas na esquizofrenia, assim como na depressão, são múltiplas, podemos supor que os pacientes que estão respondendo à suplementação com ômega 3 seriam aqueles que apresentam os distúrbios devido ao bloqueio na liberação do BDNF (brain derived neurotrophic factor). Este fator peptídico é responsável pela regeneração de axônios e dendritos nos neurônios cerebrais e sua inibição foi associada com deficiência de ômega 3 (tanto EPA como DHA) e esquizofrenia: veja o link nº 1.
Há, ainda, estudos associando o uso de ômega 3 com antipsicóticos e antidepressivos (ex: sertralina), mostrando que, no mínimo, associação aumenta a eficiência do tratamento (veja link nº 3). A discussão está em plena efervescência e isso é muito bom, pois somente assim serão esclarecidos os efeitos do ômega 3 nas psicoses e na depressão, bem como mecanismos de ação.
DOSES: o estudo de Amminger usou 1,2g/dia - dose um tanto não usual (estão disponíveis cápsulas de 500 ou 1000mg). A maior parte dos estudos anteriores utilizou 2g, às vezes 3g/dia. O estudo com sertralina (3), por exemplo, utilizou 2g/dia. A dose de 1,5g pode ser obtida através da ingestão de 3 cápsulas diárias de 500mg.
ADMINISTRAÇÃO: excepcionalmente, os ácidos graxos são melhor absorvidos após a refeição, quando estão disponíveis maiores teores dos ácidos biliares, que promovem sua absorção.

Acessem os links abaixo! Um grande abraço a todos, amigos e ex-alunos.
Celio Mendes.

  1. http://www.ncbi.nlm.nih.gov/pubmed/15041037?itool=EntrezSystem2.PEntrez.Pubmed.Pubmed_ResultsPanel.Pubmed_RVDocSum&ordinalpos=7
  2. http://www.ncbi.nlm.nih.gov/pubmed/18587166?itool=EntrezSystem2.PEntrez.Pubmed.Pubmed_ResultsPanel.Pubmed_RVDocSum&ordinalpos=11
  3. http://www.ncbi.nlm.nih.gov/pubmed/19843899?ordinalpos=1&itool=EntrezSystem2.PEntrez.Pubmed.Pubmed_ResultsPanel.PubmedSingleItemSupl.Pubmed_Discovery_RA&linkpos=4
  4. http://www.ncbi.nlm.nih.gov/pubmed/8729112?itool=EntrezSystem2.PEntrez.Pubmed.Pubmed_ResultsPanel.Pubmed_RVDocSum&ordinalpos=304

quinta-feira, 4 de fevereiro de 2010

DOSES ORAIS PARA CRIANÇAS

ADAPTAÇÃO de DOSES ORAIS de FÁRMACOS e NUTRACÊUTICOS para CRIANÇAS

Muitos alunos, ao longo desses anos, têm me perguntado sobre a adaptação mais precisa das doses de fármacos (e nutracêuticos) de adultos, para crianças.

Pelo que estudei até hoje, considero o trabalho de Alan Done o mais perfeito nesta adaptação. O Professor Doutor Alan Done, foi médico pesquisador da Universidade de Utah e da Wayne State Universtity (EUA), tendo se especializado em farmacologia infantil e toxicologia. Publicou dezenas de trabalhos nesta área e tornou-se referência absoluta, tanto que foi nomeado Assitente Especial do "Bureau of Drugs", do FDA.

Pelo que sei, o professor Alan Done continuava ativo até março de 2009, publicando suas pesquisas. Aqui está a tabela (clique para ampliar):
Abraços a todos, amigos e ex-alunos.
Celio Mendes.














quarta-feira, 3 de fevereiro de 2010

GLUTATHIONE e SAÚDE CELULAR



MARCADOR DE SÁUDE CELULAR: GLUTATHIONE.

Após ter sido, gradativamente, elevado ao posto de peptídeo marcador de saúde celular, algo que o meu mestre Helion Póvoa já havia afirmado em 1990 (20 anos!), o L-Glutathione continua sendo alvo de intensas pesquisas em biologia celular (vírus, HIV, estresse oxidativo, degeneração celular leucócitos e eritrócitos).

Recém publicada uma pesquisa (clique na figura anexa) que aprofunda a questão da neurotoxicidade do álcool etílico, especialmente para os neurônios do córtex cerebral. No estudo os pesquisadores verificaram (em animais, é claro) que o consumo crônico de etanol leva à uma diminuição dos níveis de L-Glutathione nas mitocôndrias, com acúmulo e infiltração de colesterol. Essas alterações estimulam as proteínas promotoras de apoptose e, como se poderia esperar, produzem morte neuronal.
Reabastecer as células com L-Glutathione é um desafio, pois trata-se de um tri-peptídeo de síntese endógena. Duas maneiras de melhorar a sua disponibilidade:
  • Administrar L-Glutathione pela via sublingual (pela via oral ocorrerá a hidrólise das ligações peptídicas). As doses variam de 50 a 100mg por via sublingual em jujubas ou tabletes semelhantes aos da homeopatia. Atenção: solicite inclusão de essência de limão, pois é o melhor mascarante para o odor característico, que não é agradável.
  • Administrar N-Acetil Cisteína. O aminoácido L-Cisteína é o substrato mais crítico na síntese do L-Glutathione, pois L-Glicina e L-Glutamato estão disponíveis em concentrações bem mais fartas. Na forma de N-Acetil seu transporte e incorporação na síntese do L-Glutathione é bem mais eficiente.
Oportunamente falaremos com detalhes da síntese do L-Glutathione do organismo.

Abraços a todos, amigos e ex-alunos.
Celio Mendes.

CURCUMIN: MAIS PESQUISAS MÉDICAS.

MAIS PESQUISAS COM CURCUMIN!



Agora, já em 2010, novas pesquisas continuam ratificando o grande potencial terapêutico deste fitoterápico:

  • Como anticancerígeno (inibe células do glioblastoma U-87, in vivo)
  • Também um estudo super importante mostrando a capacidade do curcumin de inibir a ação cancerígena da aflatoxina sobre o fígado.

Vale a pena conferir clicando nos artigos (abstracts) originais acima.

Abraços a todos, amigos e ex-alunos.
Celio Mendes.




CURCUMIN É ANTICANCERÍGENO.

CURCUMIN - a ciência comprova sua ação anticancerígena.
Curcuma longa é uma planta da família das Zingiberaceae com uso tradicional na medicina indiana (antinflamatório). No extrato seco se sobressai o CURCUMIN (diferuloilmetano), um pigmento amarelo-alaranjado muito utilizado na culinária indiana (curry), cujas propriedades medicinais ganharam relevância nos últimos anos e mais recentemente ainda.
O interesse médico pela CURCUMIN tomou proporções surpreendentes a partir de pesquisas na década de 1990 que mostraram seu poder inibitório sobre o câncer, além de sua ação antinflamatória.
De fato, chama atenção a simples consulta à biblioteca virtual MedLine: estão catalogados mais do que 2.000 artigos sobre CURCUMIN até 2009.
Curcumin e Ação Anticancerígena:
  • Yodkeeree & cols apresentaram sua monografia (1) onde constataram que os componentes da Curcuma longa (curcumin) inibem a migração de células cancerígenas (metástase).
  • Anteriormente, Su & cols (13), Aggarwal & cols (15) e Aggarwal & cols (16) já haviam relatado esta capacidade do curcumin de inibir a migração de células cancerígenas por inibição do fator nuclear kB e inibição de proteínas proliferativas Akt e IkBa.
  • Subramaniam & cols (2) verificaram a atividade de derivados do curcumin in vivo usando inoculação de células cancerígenas humanas (cólon) em camundongos e ficaram surpresos com a potente ação inibitória sobre o câncer constatada.
  • Su & cols (6) avaliaram a ação de curcumin em camundongos inoculados com células leucêmicas WHEHI-3 e relataram que o composto inibe essas células cancerígenas.
  • Para Garcea & cols (14), curcumin comprovou ser inibidor do câncer em modelos in vivo(camundongos, ratos) e in vitro. A partir desse retrospecto, os autores resolveram avaliar o curcumin em humanos portadores de câncer colo-retal, administrando 3.600mg; 1.800mg ou 450mg/dia do fitocomposto, durante 7 dias. Biópsias revelaram a localização de curcumin no tecido colo-retal nos tumores. O número de aductos (M1G) cancerígenos foi menor nos pacientes que ingeriram curcumin.
  • Sharma & cols (17) selecionaram 15 pacientes com câncer colo-retal avançado refratários à quimioterapia e administraram curcumin em doses entre 0,45g e 3,6g diariamente, por 4 meses (fase I). Com a dose de 3,6g/dia foi detectado um nível plasmático médio de 10nmol/L de curcumin, ocorrendo uma redução na PGE2 induzível. Os autores recomendaram a dose oral de 3,6g/dia para a fase II do estudo clínico.
  • Cheng & cols (18) avaliaram 25 pacientes com diversos tipos de neoplasia, os quais foram administrados com curcumin durante 3 meses com doses que variaram entre 1.000mg e 12.000mg/dia. Até a dose de 8.000mg/dia não foi relatada toxicidade do tratamento. Os autores concluíram que curcumin não é tóxico para humanos até o limite de 8.000mg/dia e que o composto apresenta efeitos na prevenção do câncer.
  • Inano & cols (20) realizaram um estudo pioneiro em 2.000, comprovando potente ação preventiva do curcumin sobre a carcinogênese em ratos induzidos por radiação. Este estudo foi publicado na conceituada revista médica Carcinogenesis” - os autores perceberam que o curcumin atua bloqueando a fase de iniciação do câncer.
Nesta revisão incluímos 12 artigos relevantes publicados que mostram atividade cancerígena específica para o curcumin na inibição e regressão do câncer, especialmente do cólon (4,13-14,24), hepático (23), bexiga (8), ovários (10), próstata (22), leucemia (6), pulmonar (15), oral (21) e câncer de mama (15,20). Outros estudos mostram claramente esse potencial (1-5,7,12,16,19,40) e alicerçam nível de evidência científica respeitável. É de se considerar, ainda, o número de publicações com curcumin sobre esse tema – o câncer: aproximadamente 1.000 publicações na MedLine.
Curcumin e Ação Antinflamatória.
Doença Inflamatória Intestinal:
Deguchi & cols (26) avaliaram a utilidade do curcumin em camundongos com IBD (Inflammatory Bowel Disease). Os autores verificaram bloqueio evidente do fator NFkB nos animais que receberam tratamento com curcumin e diminuição da inflamação – a conclusão é de que o fitocomposto tem utilidade no tratamento da IBD. Holt & cols (31) realizaram um estudo com 5 pacientes com doença de Crohn e 5 com proctite ulcerativa, administrando curcumin por via oral. Os autores relataram remissão dos sintomas em todos os pacientes com proctite e em quatro dos cinco que apresentavam Crohn.
Artrite Reumatóide: Park & cols (27) estudaram os efeitos do curcumin sobre pacientes com artrite reumatóide (AR). Os autores constataram redução na proliferação dos fibroblastos sinuviais (bloqueio da proteína anti-apoptótica Bcl-2 e estimulação de Bax). Os autores concluíram que trata-se de uma nova via terapêutica (curcumin) para o tratamento da AR.
Regulação da COX e LOX: Rao (28) inicia seu artigo relatando o uso extensivo da Curcuma longa através de décadas. De fato, conforme o autor, o componente curcumin provou ser um composto antinflamatório. Curcumin mostrou controlar o metabolismo de eicosanóides (ômega-6) regulando a produção de enzimas no processo inflamatório: ciclooxigenases e lipoxigenases. Às mesmas conclusões chegaram Menon & Sudheer (29).

Curcumin, Neuroproteção e Efeitos sobre o SNC.
Depressão: Wang & cols (35) relatam que o curcumin demonstrou efeito antidepressivo em modelos animais (39) submetidos ao estresse (forced swimming test). Propuseram, então, um teste para avaliar a ligação de curcumin nos receptores serotoninérgicos, em modelo animal. Concluíram que o efeito antidepressivo de curcumin se deve à estimulação dos receptores serotoninérgicos.
Neuroproteção: Xu & cols (36) demonstraram in vivo (ratos) a capacidade de curcumin de reverter danos no hipocampo e aumentar níveis de serotonina nos receptores, além do fator neurotrófico cerebral (brain derived neurotrophic factor). Lee & cols (37) confirmaram que o efeito de neuroproteção ocorre pelo bloqueio sobre mediadores inflamatórios (NOSi induzida, TNF-a, IL-1a e IL-6). Outro estudo (38) mostra que curcumin modula o sistema cerebral do óxido nítrico.
Prescrição Médica:
Curcumin ................................................................................... 250mg
Excipiente qsp ..................................................................... 1 cápsula
Posologia: tomar 1 cápsula duas a três vezes ao dia, antes das refeições.

Abraços a todos, amigos e ex-alunos.
Celio Mendes.

Atenção para o artigos bem recentes:
Referências citadas nesta revisão: (os que considerei mais relevantes estão linkados)
1. Curcumin, demethoxy curcumin and bis-demetoxy curcumin differentially inhibit cancer cell invasion through the down regulation of MMPs and uPA. Yodkeeree S & cols – J Nutr Biochem, 2008, May 19.
2. Diphenyl difluoroketone: a curcumin derivative with potent in vivo anticancer activity. Subramaniam D & cols – Cancer Res, 2008, 68, (1962:1969).
3. Efficacy of Turmeric (Curcuma longa), containing a known level of curcumin, and a hydrated sodium calcium aluminosilicate to ameliorate the adverse effects of aflatoxin in broiler chicks. Gowda NK & cols – Poutl Sci, 2008, 87(6), 1125:1130.
4. Curcumin induces apoptosis in HCT-116 human colon cancer cells in a p21 independent manner. Watson JL & cols – Exp Mol Pathol, 2008, March 4.
5. Cancer chemoprotective effects of Curcuma longa. Park JH & cols – Phytother Res, 2008, 22(5), 695:698.
6. Curcumin inhibits WEHI-3 leukemia cells in BALB/c mice in vivo. Su CC & cols – In Vivo, 2008, 22(1), 63:68.
7. Cyto protective and immunomodulating effect of Curcuma longa in Wistar rats subjected to carbon tetrachloride induced oxidative stress. Abu-Rizq HA & cols – Inflammopharmacology, 2008, 16(2), 87:95.
8.
Effects of curcumin on bladder cancer cells and development of urothelial tumors in a rat bladder carcinogenesis model. Tian B & cols – Cancer Letters, 2008, 264(2), 299:308.
9. Cancer chemopreventive effects of curcumin. Surh YJ & Chun KS – Adv Exp Med Biol, 2007, 595, 149:172.
10.
Curcumin inhibits tumor growth and angiogenesis in ovarian carcinoma by targeting the nuclear factor kB pathway. Lin YG & cols – Clin Cancer Res, 2007, 13(11), 3423:
11. Curcumin for chemoprevention of colon cancer. Johnson JJ & Mukhtar H – Cancer Letters, 2007, 255(2), 170:181.
12.
Biological effects of curcumin and its role in cancer chemoprevention and therapy. Singh S & Khar A – Anticancer Agents Med Chem, 2006, 6(3), 259:270.
13. Curcumin inhibits cell migration of human colon cancer [colo 205] cells through the inhibition of nuclear factor kappa B / p65 and down regulates cyclooxigenase-2 and matrix metalloproteinase-2 expresssions. Su CC & cols – Anticarcer Res, 2006, 2A, 1281:1288.
14. Comsumption of the putative chemopreventive agent curcumin by cancer patients: assessment of curcumin levels in the colorectum na their pharmacodynamic consequences. Garcea G & cols – Cancer Epidemiol Niomarkers Prev, 2005, 14(1), 120:125.
15. Curcumin supresses the paclitaxel induced nuclear factor kB pathway in breast cancer cells and inhibits lung metastasis of human breast cancer in nude mice. Aggarwal BB & cols – Clin Cancer Res, 2005, 11(20), 7490:
16. Curcumin (diferuloylmethane) down regulates expression of cell proliferation and antiapoptotic and metastatic gene products through suprresion of IkBa kinase and Akt activation. Aggarwal S & cols – Molec Pharmacology, 2006, 69(1), 195:206.
17. Phase I clinical trial of oral curcumin: biomarkers of systemic activity and compliance. Sharma RA & cols – Clin Cancer Res, 2004, 10, 6847:6854.
18. Phase I clinical trial of curcumin, a chemopreventive agent, in patients with high risk of pre-malignant lesions. Cheng AL & cols – Anticancer Res, 2001, 21(4B), 2895:2900.
19. Chemopreventive effect of curcumin, a naturally occurring anti-inflammatory agent, during the promotion / progression stages of colon cancer. Kawamori T & cols – Cancer Res, 1999, 59, 597:601.
20. Potent preventive action of curcumin on radiation-induced initiation of mammary tumorigenesis in rats. Inano H & cols – Carcinogenesis, 2000, 21(10), 1835:1841.
21.
The inhibitory effect of curcumin, genistein, quercetin and cisplatin on the growth of oral cancer cells in vitro. Elattar TM & Virji AS – Anticancer Res, 2000, 20(3A), 1733:1788.
22. Therapeutic potential of curcumin in human prostate cancer. II. Curcumin inhibits tyrosine kinase activity of epidermal growth factor receptor and depletes the protein. Dorai T, Gehani N & Katz A – Mol Urol. 2000 Spring, 4(1), 1:6.
23. Curcumin-containing diet inhibits diethylnitrosamine-induced murine hepatocarcinogenesis. Chuang SE & cols – Carcinogenesis, 2000, 21(2), 331:335.
24. Curcumin inhibits cell proliferation by interfering with the cell cycle and inducing apoptosis in colon carcinoma cells. Chen H, Zhang ZS, Zhang YL & Zhou DY – Anticancer Res, 1999, 19(5A), 3675:3680.
25. Identification and characterization of a super stable Cu-Zn SOD from leaves of turmeric (Curcuma longa). Kochhar S & Kochhar VK – Planta, 2008, 228(2), 307:318.
26. Curcumin prevents the development of dextran sulfate sodium (DSS) induced experimental colitis. Deguchi Y & cols – Digestive Dis Sci, 2007, 52(11), 2993:2998.
27. Curcumin induces apoptosis and inhibts prostaglandin E (2) production in synovial fibroblasts of patients with rheumatoid arthritis. Park C & cols – Int J Mol Med, 2007, 20(3), 365?372.
28. Regulation of COX and LOX by curcumin. Rao CV – Adv Exp Med Biol, 2007, 595, 213:226.
29. Antioxidant and anti-inflammatory properties of curcumin. Menon VP & Sudheer AR – Adv Exp Med Biol, 2007,595, 105:125.
30. Curcumin combats against cigarette smoke and ethanol induced lipid alterations in rat lung and liver. Vanisree AJ & Sudha N – Mol Cell Biochem, 2006, 288(1-2), 115:123.
31. Curcumin therapy in inflammatory bowel disease: a pilot study. Holt PH, Katz S & Kirshoff R – Dig Dis Sci, 2005, 50(11), 2191:2193.
32. Effect of curcumin on the advanced glycation and cross linking of collagen in diabetic rats. Sajithlal GB, Chithra P & Chandrakasan G – Biochem Pharmacol, 1998, 56(12), 1607:1614.
33. Antioxidant and radical scavenging properties of curcumin. Ak T & Gülçin I – Chem Biol INteract, 2008, May 7.
34. Role of curcumin in health and disease. Pari L, Tewas D & Eckel J – Arch Physiol Biochem, 2008, 114(2), 127:149.
35. The antidepressant effects of curcumin in the forced swimming test involve 5 HT1 and 5 HT2 receptors. Wang R & cols – Eur J Pharmacol, 2008, 578(1), 43:50.
36.
Curcumin reverses impaired hippocampal neurogenesis and increases serotonin receptor 1A m RNA and brain derived neurotrophic factor expression in chronically stressed rats. Xu Y & cols – Brain Res, 2007, 1162, 9:18.
37. Neuroprotective effect of curcumin is mainly mediated by blockade of microglial cell activation. Lee HS & cols – Pharmazie, 2007, 62(12), 937:942.
38. Curcuma oil modulates the nitric oxide oxide system response to cerebral ischemia reperfusion injury. Dohare P, Varma S & Ray M – Nitric Oxide, 2008, April 26.
39. Antidepressant effects of curcumin in the forced swim test and olfactory bulbectomy models of depression in rats. Xu Y & cols – Pharmacol Biochem Behav, 2005,82(1), 200:206.
40.
Curcumin induces apoptosis-independent death in oesophageal cancer cells. O'Sullivan-Coyne G, O'Sullivan GC, O'Donovan TR, Piwocka K, McKenna SL. Br J Cancer, 2009 Nov 3;101(9):1585-95.

terça-feira, 2 de fevereiro de 2010

EXERCÍCIO E SUPLEMENTAÇÃO NUTRICIONAL


EXERCÍCIO E SUPLEMENTAÇÃO NUTRICIONAL AVANÇADA
O exercício programado, o condicionamento físico, em qualquer nível, é um fator de saúde indiscutível. Após milhões de anos adaptados para reter excesso de calorias, o que nos permitiu enfrentar as adversidades do homem coletor e esporadicamente caçador, lidamos com essa pandemia assustadora: o excesso de peso, a obesidade e a obesidade mórbida.

Era lógico que isso acontecesse: apenas há 150 anos dominamos o refinamento do açúcar, há 100 anos o automóvel e o telefone. Por aí mesmo a era da industrialização - os anos de "ouro", e o pós guerra (1945).

Muito menos tempo temos da era da automatização - por volta dos anos 1980. Controle remoto, computador, telefonia celular, notebook, netbook, palm, etc...

Enfim, mais calorias e menos atividade. A conta é simples: obesidade mundial!

Programas de melhoria da qualidade de vida têm que enfatizar a atividade física regular, ou não serão verdadeiros. Há centenas de formas de se exercitar, mas há um único exercício que não tem contra-indicações: a caminhada. O gasto de calorias na caminhada é tremendamente variável, de acordo com a velocidade, a distância percorrida e a inclinação do plano do percurso.

CAMINHADA:
  • Velocidade de 4km/hora, percurso de 30 minutos, freqüência de 4 vezes por semana --> sem contra indicações!!!
  • Velocidade de 5km/hora, percurso de 45 minutos, freqüência de 4 vezes por semana --> quase todo mundo pode fazer.
  • Velocidade de 6km/hora, percurso de 1 hora, freqüência de 4 vezes por semana --> quem não tem nenhum tipo de distúrbio cardiovascular pode fazer, sem problemas.
  • Velocidade de 9km/hora (trote), percurso de 1 hora, freqüência de 5 vezes por semana, precisa fazer antes uma avaliação cardiorespiratória completa.
  • Velocidade de 12km/hora (corrida), idem.
A suplementação nutricional é fundamental para a melhoria da performance e resistência ao esforço. Aminoácidos que são necessários ao aumento da demanda de ATP e oxigênio devem ser administrados antes e, alguns, depois do esforço. L-Arginina, por exemplo:
  • É largamente captado pelo músculo para síntese protéica.
  • É parcialmente metabolizado em creatina, o maior banco de fosfato do organismo, capaz de regenerar grandes quantidades de ATP.
  • Libera moléculas de NO (óxido nítrico), um potente vasodilatador e amplificador do fluxo circulatório. Assim, facilita a maior demanda de oxigênio e da circulação sangüínea.
  • É a mola mestra do ciclo da uréia, mecanismo pelo qual o metabolismo recicla o lixo alcalino (amônia) em uréia - esta 40 vezes menos tóxica e com maior facilidade de excreção urinária.
  • Estimula a liberação do GH à noite, conforme vários estudos comprovam.
O grupo denominado BCAA (branched chain amino acids) é, igualmente, muito importante no esforço, pois são os mais utilizáveis aminoácidos para fornecimento de energia ao músculo. BCAA é L-LEUCINA, L-ISOLEUCINA e L-VALINA. Calcula-se que cerca de 45% das necessidades diárias de aminoácidos para o corpo humano sejam de BCAA.
Outros suplementos, como HMB, um anticatabólico derivado da L-LEUCINA, promovem grande proteção ao músculo, simulando o catabolismo e desativando o circuito das proteases musculares.
Este temas podem ser muito aprofundados, como no curso que ministro "SUPLEMENTAÇÃO AVANÇADA PARA ATLETAS E PRATICANTES DE EXERCÍCIO FÍSICO". Se você está interessado, solicite literatura aqui no blog ou pelo E-mail.

Abraços a todos, amigos e ex-alunos.
Celio Mendes.

ÁCIDO FÓLICO: DOSES DE SEGURANÇA.

ÁCIDO FÓLICO

ALERTA SOBRE DOSES ELEVADAS

Ácido fólico é um nutriente essencial, não pode ser confeccionado no organismo. Sua presença nos alimentos é relativa, sendo mais relevante nos vegetais de folhas verdes – daí o nome ácido fólico. Ele tem papel relevante na gravidez, no combate à anemia e doenças cardiovasculares, replicação e reparação do DNA.
Descoberto na década de 1940, o ácido fólico não despertou tanto interesse até 1970, quando foi identificado em numerosas reações metabólicos (fígado, DNA e cérebro). Sua primeira função conhecida foi na renovação dos glóbulos vermelhos, em conjunto com a vitamina B12 - sua deficiência foi relacionada à anemia.

Uma descoberta que mudou a importância do ácido fólico foram as malformações fetais – defeitos no tubo neural – devido à sua deficiência. A sua ocorrência é nas primeiras semanas de gestação, levando a seqüelas irreversíveis (1). A partir desses dados, governos de alguns países iniciaram o enriquecimento de alimentos com o ácido fólico. Pesquisas recentes (50-51), entretanto, questionam o enriquecimento e discutem níveis de segurança para administração de ácido fólico, pois com doses elevadas observou-se aumento da incidência de câncer, especialmente em fumantes (capítulo “Ácido Fólico e Câncer”).

Ácido fólico diminui risco de malformação congênita:
Durante o VI Congresso da Sociedade de Obstetrícia e Ginecologia do Estado de São Paulo o húngaro Andrew E. Czeizel apresentou conclusões sobre a suplementação vitamínica na gravidez (2) e relatou como conseguiu provar a eficiência do ácido fólico na prevenção de defeitos do tubo neural. Sua pesquisa recebeu o Prêmio Internacional de Pesquisa Científica da Fundação Joseph P. Kennedy Jr. (prêmio oferecido a cada 5 anos, aos que contribuem para melhoria ou prevenção de doenças congênitas) (1).
Homocisteína: ácido fólico reduz o risco de doenças vasculares.
O acúmulo de homocisteína no organismo produz efeitos tóxicos e representa fator de risco independente para doença coronariana e vascular cerebral (derrames). Pesquisas recentes mostram que a hiper-homocisteinemia moderada (níveis entre >15mmol/L e 30mmol/L estão relacionadas com disfunção endotelial, infiltração celular na íntima e lesão ateromatosa. O sistema vascular cerebral parece ser mais afetado pela hiperhomocisteinemia é o cerebral, conforme os estudos publicados.
Ácido Fólico é o Principal Redutor dos Níveis de Homocisteína: entre as vitaminas do complexo “B” avaliadas na redução dos níveis de homocisteína plasmática, sem dúvida o ácido fólico tem destaque especial, face aos resultados demonstrados e contrariamente ao que se poderia imaginar ao examinarmos o metabolismo da metionina.

Ácido fólico e Câncer:
O estudo que provou ser o folato um nutriente anti-cancerígeno foi realizado por Edward Giovannucci e cols, publicado em 1998 (27). Nesta pesquisa, os autores acompanharam 88.756 enfermeiras voluntárias, durante 14 anos, avaliando a incidência de câncer de cólon e comparando os níveis de ingestão de nutrientes e folato. As voluntárias que ingeriram mais folato (>0,4mg) tiveram incidência de câncer significativamente menor. A partir daí, estudos epidemiológicos nas últimas décadas deixaram claro que o ácido fólico está entre os mais importantes nutrientes que previnem a ocorrência de câncer (28-35).
Associado ao baixo consumo de fibras, o uso constante de bebidas alcoólicas contribui para um aumento considerável no câncer gastrintestinal – o álcool é antagonista do folato (31). Os estudos mais conclusivos sobre a proteção que o folato exerce sobre o câncer são na área gastrintestinal, em especial cólon e reto. Estudo publicado em 2007 (35) confirmou os achados anteriores que mostraram maior risco de câncer de reto e cólon para os indivíduos com menor índice de ingestão de ácido fólico na dieta.
DOSES DE SEGURANÇA: doses orais elevadas (acima de 1mg/dia) podem estar relacionadas com aumento da incidência de câncer (50-51), principalmente nos pacientes que possam estar desenvolvendo algum tipo de câncer silencioso ou ainda sem diagnóstico, e também nos fumantes. Nestes casos pode haver estímulo à proliferação celular, contribuindo para agravamento do processo. É recomendável que a suplementação com ácido fólico esteja entre 0,4mg (RDA) e 0,75mg (49).
Ácido fólico na depressão:
Estudos publicados associam depressão com hiperhomocisteinemia e níveis baixos de folato (36,42,43). Embora os mecanismos bioquímicos ainda não estejam esclarecidos, é sabido que o ácido fólico participa da liberação de da serotonina, onde é cofator na forma de THF (tetrahidro folato) para a transformação do aminoácido 5-OH Triptofano em 5-OH Triptamina (serotonina). Estudos bem recentes confirmam a relação(52-53).

Suplementação: ácido fólico e ácido folínico.
Ao se administrar o ácido fólico via oral são minimizadas possíveis dificuldades de absorção do poli-pteroil glutâmico encontrado nos vegetais. A principal delas é a dependência enzimática (folato conjugase), que libera folato livre (catalisado por zinco). Com a suplementação a absorção é maior e os níveis plasmáticos sobem. Entre os fatores que melhoram a absorção do ácido fólico, além do zinco (39), citamos a vitamina “C”, cujas pesquisas indicam ser a associação bastante favorável (26).
Ácido folínico: é precursor imediato das formas ativas 5,10 METHF e 5MTHF nos tecidos extra-hepáticos, sem dependência da enzima DFH. Sua suplementação é fundamental nos pacientes com insuficiência ou doença hepática:
Doses e Posologia:
São indicadas as dosagens entre 0,4 e 0,75mg/dia, níveis seguros conforme as publicações mais recentes sobre os papéis do ácido fólico no câncer (49-51). É aconselhável associar com ácido folínico.
Não há dados sobre a segurança de doses acima de 1mg/dia de ácido fólico na gravidez.

Abraços a todos, amigos e ex-alunos.
Celio Mendes.

Prescrição Médica:
Hiper-Homocisteinemia:
Ácido fólico........................................................... 0,375mg
Vitamina B-12........................................................... 1,0mg
Posologia: 1 cápsula duas vezes ao dia, antes das refeições.
Anemias:
Ácido fólico............................................................. 0,2mg
Ferro glicina quelado .................................................. 15mg
Cobre quelado......................................................... 0,5mg
Vitamina “C” ........................................................... 100mg
Vitamina B-12............................................................. 1mg
Posologia: 1 cápsula duas vezes ao dia, antes das refeições.
Prevenção do Câncer:
Ácido fólico......................................................... 0,375mg
Ácido folínico..................................................... 0,200mg
Licopeno................................................................... 5mg
Resveratrol............................................................... 10mg
Posologia: 1 cápsula duas vezes ao dia, antes das refeições.

Referências:
1. Long-term somatic and mental development of children after periconceptional multivitamin supplementation. Czeizel AE & Dobò M - Eur J Pediatr. 1998, 157(9):719-23.
2. Hungarian cohort-controlled trial of periconceptional multivitamin supplementation shows a reduction in certain congenital abnormalities. Czeizel AE, Dobó M, Vargha P - Birth Defects Res A Clin Mol Teratol. 2004 Nov;70(11):853-61
3. Primary prevention of neural-tube defects and some other major congenital abnormalities: recommendations for the appropriate use of folic acid during pregnancy. Czeizel AE - Paediatr Drugs. 2000 Nov-Dec;2(6):437-49
4. Hyperhomocysteinemia: an independent risk factor for vascular disease. Clarke R & cols - N Engl J Med, 1991 Apr 25; 324(17):1149-55.
5. Hiper-Homocisteinemia e Doenças Vaso-Oclusivas. Bydlowski SP, Magnanelli AC, Chamone DAF - Arq Bras Cardiol, volume 71, (nº 1), 1998.
6. Coronary artery disease--free radical damage, antioxidant protection and the role of homocysteine. Maxwell SR - Basic Res Cardiol, 2000; 95 Suppl 1.
7. Analysis of Plasma Homocysteine Levels in Patients with Unstable Angina. Tavares JR & cols - Arq Bras Cardiol, 2002, vol 79 (nº 2), 167-72.
8. Metabolism of homocysteine and its relationship with cardiovascular disease. Aguilar B, Rojas JC, Collados MT - J Thromb Thrombolysis, 2004, 18(2) .
9. Moderate homocysteinemia: a possible risk factor for arteriosclerotic cerebrovascular disease. Brattstrom LE & cols. Stroke, 1984 Nov-Dec;15(6):1012-6.
10. Prospective study of serum total homocysteine concentration and risk of stroke in middle-aged British men. Perry IJ & cols – Lancet, 1995 (25); 346(8987).
11. Blood homocysteine levels in stroke patients undergoing rehabilitation. Sacher Y & cols - Med Sci Monit, 2003; 9(6): CR253-259.
12. Homocysteine and stroke: evidence on a causal link from mendelian randomisation. Casas JP & cols - Lancet, 2005 Jan 15; 365( 9455):224-32.
13. Efficacy of folic acid supplementation in stroke prevention: a meta-analysis. Wang X & cols – Lancet, 2007, 369(9576), 1876:1882.
14. Homocysteine and cognitive impairment; a case series in a General Practice setting. McCaddoA - Nutrition Journal 2006, 5:6 doi:10.1186/1475-2891-5-6 (Nutrition Journal 2006, 5:6 doi:10.1186/1475-2891-5-6 (This article is available from:
http://www.nutritionj.com/content/5/1/6).
15. Folic Acid Deficiency and Homocysteine Impair DNA Repair in Hippocampal Neurons and Sensitize Them to Amyloid Toxicity in Experimental Models of Alzheimer’s Disease. Kruman II & cols - Journal of Neuroscience, March 1, 2002, 22(5):1752–1762.
16. Folate, DNA stability and colo-rectal neoplasia. Duthie SJ, Narayanan S, Sharp L, Little J, Basten G, Powers H - Proc Nutr Soc. 2004 Nov;63(4):571-8.
17. Effects of folate deficiency on gene expression in the apoptosis and cancer pathways in colon cancer cells. Novakovic P, Stempak JM, Sohn KJ, Kim YI - Carcinogenesis. 2006 May;27(5):916-24.
18. Roles and causes of abnormal DNA methylation in gastrointestinal cancers. Suzuki H, Toyota M, Sato H, Sonoda T, Sakauchi F, Mori M - Asian Pac J Cancer Prev. 2006 Apr-Jun;7(2):177-85.
19. Homocysteine and folate metabolism in depression. Bottiglieri T - Prog Neuropsychopharmacol Biol Psychiatry, 2005 Sep;29(7):1103-12.
20. Serum folate and homocysteine levels in patients with obsessive-compulsive disorder. Atmaca M, Tezcan E, Kuloglu M, Kirtas O, Ustundag B - Psychiatry Clin Neurosci, 2005 Oct;59(5):616-620.
21. Folate and cancer prevention: a closer look at a complex picture. Cornelia M Ulrich - Am J Clin Nutr 2007;86:271–3.
22. Cancer Incidence and Mortality After Treatment With Folic Acid and Vitamin B12. Ebbing M & cols - JAMA, November 18, 2009—Vol 302, No. 19.
23. Folate in depression: efficacy, safety, differences in formulations, and clinical issues. Fava M, Mischoulon D – J Clin Psychiatry. 2009;70 Suppl 5:12-7.
24. Serum folate and homocysteine and depressive symptoms among Japanese men and women. Nanri A & cols – Eur J Clin Nutr. 2010 Jan 20.

HOMENS INSPIRADORES.

HOMENS INSPIRADOS E INSPIRADORES:

Há pessoas que são fundamentais em nossa vida, que nos fazem dar uma virada e corrigir a direção, às vezes em 180º.

No meu caso, tenho tanto a agradecer o meu querido mestre, professor HELION PÓVOA FILHO.

Na assistência de uma palestra sua sobre metabolismo do cálcio, no auditório do Hospital Gaffreè e Guinle, no Rio de Janeiro, fui tocado pela instigante busca do melhor conhecimento sobre esse caldeirão de reações bioquímicas que é o organismo vivo, também o humano.

Professor dotado de alto conhecimento em patologia, bioquímica e medicina, membro da Academia Nacional de Medicina desde 1982, autor de livros médicos e inúmeros artigos científicos, além de poeta de fina sensibilidade humana e fraternal, este especial homem traz em si uma singela e eterna humildade, peculiar dos grandes sábios.
Entre os poucos brasileiros a serem admitidos como professor convidado em Harvard University, EUA, o mestre Helion Póvoa desenvolveu lá interessantes pesquisas com o prof. Antoniades, também cientista de renome internacional.
Saúdo esse grande brasileiro, em plena atividade poética e científica, com carinho e admiração.


Um abraço a todos, em especial ao meu querido Helion Póvoa.
Celio Mendes.

COMPLEXO "E" - a nova forma.

A IMPORTÂNCIA DO COMPLEXO "E" EM SUBSTITUIÇÃO AO
ALFA-TOCOFEROL ISOLADO:

Como tem sido uma constante, a observação da natureza é o melhor caminho. Após a síntese do isômero alfa entre os tocoferóis, a sua adoção unilateral como VITAMINA E mostrou ser um equívoco.
Na verdade, o complexo de nutrientes "E" engloba 4 tocoferóis (alfa, beta, delta e gama), assim como compostos análogos TOCOTRIENÓIS, que são diferentes por apresentarem 3 duplas ligações na cadeia lateral do núcleo tocoferol.
A medicina está descobrindo, agora, que a administração do COMPLEXO "E" é muito mais benéfica, em vários sentidos:
  • Primeiro: o uso do alfa-tocoferol isoladamente pode ser danoso pela formação de tocoferila, especialmente em fumantes e alcoolistas de alta freqüência (>= 1 maço/dia; >=100g/dia).
  • Segundo: os tocotrienóis têm maior potencial antioxidante (devido às duplas ligações).
  • Terceiro: os tocotrienóis mostram importante ação anticancerígena e antinflamatória (inibem o fator NFkB).
  • Quarto: os tocotrienóis auxiliam na regulação da lipidemia, pois inibem a enzima HMGCoA, que aumenta a síntese do colesterol endógeno (não esquecendo que este colesterol produzido no fígado responde por até 70% do total que circula no sangue).
  • Quinto: os tocotrienóis preservam a molécula do tocoferol, evitando a formação do radical TOCOFERILA (fumantes e alcoolistas), que pode ser perigoso.
Acredito que, brevemente, as cápsulas industrializadas de alfa-tocoferol deverão ser substituídas pelo complexo natural englobando os 8 componentes, ou pelo menos:
alfa-tocoferol + tocotrienóis
O número de pesquisas publicadas nos últimos 10 anos com tocotrienóis é muito grande e aponta para adoção urgente do complexo "E" no lugar do alfa-tocoferol isolado.
200ui de alfa-tocoferol + 50mg de tocotrienóis é minha recomendação, para administração uma vez ao dia.
Quer dar uma olhada nestes artigos? Acho que vale a pena.
Celio Mendes.

CONTROVÉRSIA SOBRE ÁCIDO FÓLICO

Desde a introdução do enriquecimento dos alimentos (especialmente farinha de trigo) com o ácido fólico tem havido polêmica sobre o assunto. Alguns pesquisadores questionam tal procedimento, especialmente a partir das sugestões para uso de doses bem acima das doses recomendadas para ingestão humana (RDAs) = 0,4mg/dia.

As doses mais elevadas (de 1 a 5mg/dia) começaram a ser mais utilizadas em virtude dos estudos sobre a elevação da homocisteína no sangue e sua relação com as doenças oclusivas dos vasos sanguîneos, especialmente os vasos cerebrais. De fato, vários estudos mostram que há relação entre o aumento de homocisteína e a incidência de AVCs.

Já não é de hoje que a medicina sabe que o bloqueio do ácido fólico pode ser um auxílio no tratamento de certos tipos de câncer (ex: metotrexate), sendo indiscutível que esse nutriente tem papel fundamental na replicação do DNA e na proliferação celular.

O que perdura em dúvida é se sua suplementação poderia também privilegiar células cancerígenas que estariam lantentes em nosso organismo. Como se sabe, o desenvolvimento do câncer se dá em etapas, desde a sua iniciação (promoção de uma célula cancerosa), até a sua promoção (a efetiva proliferação das células cancerosas).

Sabemos que, de modo geral, muitos de nós já foram expostos a agentes iniciadores (radiação, produtos químicos como agrotóxicos e outros sintéticos). O sistema imunológico é dotado de mecanismos sofisticados para "caça" e destruição de células iniciadas (com DNA alterado). Um grupo de células denominadas "Natural Killer Cells" (NK cells) é especialista nisso. Por outro lado, sistemas de informação sobre essas alterações existem dentro das células (L-Glutathione, L-Carnosina) e podem disparar o mecanismo de auto destruição da células (apoptose) quando a mesma está comprometida.

Agora, uma pesquisa recém publicada por Marta Ebbing e equipe (JAMA 2009;302(19):2119-2126 - Cancer Incidence and Mortality After Treatment With Folic Acid and Vitamin B12) afirma que doses suplementares de ácido fólico da ordem de 0,8mg/dia (o dobro da RDA) são incentivadores de câncer, observando 6837 pessoas.

Tal publicação está gerando grande discussão mundial em torno da suplementação com ácido fólico, embora haja considerações importantes a fazer:
  • Novamente são admitidos pacientes fumantes crônicos (39% dos avaliados), o que, pela experiência anterior com betacaroteno, já se sabe que pode alterar a interpretação dos resultados. Fumantes crônicos carregam em seu organismo um nível tão elevado de radicais livres (estresse oxidativo) que não são os voluntários ideais para observação de incidência de câncer pela suplementação com nutrientes sejam antioxidantes ou não. Acho que vale uma discussão sobre isso.
  • Marta Ebbing usou os dados de dois estudos - Norwegian Vitamin [NORVIT] trial e Western Norway B Vitamin Intervention Trial [WENBIT], ambos provenientes de regiões que têm testado sucessivamente nutrientes em fumantes. Porque? Na verdade são regiões com ALTO ÍNDICE DE TABAGISMO, concorrendo para uma sôfrega busca por suplementos que pudessem minorar os efeitos nocivos desse hábito. Não tem dado certo, nem com o betacaroteno, nem com a vitamina E e agora com ácido fólico.
  • Os níveis de ácido fólico não metabolizados pela enzima DFH (dihidro folato redutase) são rapidamente excretados pela via urinária. Seriam responsáveis por estímulo de células cancerosas se, como as demais vitaminas hidrossolúveis, são rapidamente eliminados e não cumulativos?
  • centenas de estudos mostrando uma relação inversa, ou seja, deficiência de ácido fólico e aumento na incidência de câncer, especialmente câncer gastrintestinal.

É preciso olhar essa nova publicação com cuidado para não cometermos o erro maior de ver o retorno da deficiência de folato em níveis críticos, os motivos que levaram vários países, inclusive o Brasil, a adotarem a adição do nutriente em alimentos.

De qualquer forma, o balanço dos estudos em fumantes (betacaroteno e vitamina E nos anos 1990) mostra claramente que os fumantes transformam antioxidantes e vitaminas avidamente em moléculas peroxidadas. No caso do betacaroteno, finalmente, foi identificada a causa do aumento de câncer em fumantes: o epoxicaroteno, uma molécula formada em pessoas com altos índices de radicais livres (fumantes de 1 ou mais carteiras por dia, por mais de 10 anos) e com desequilíbrio nos demais antioxidantes (complexo "E", vitamina C, sulfurados - cisteína, glutathione e ácido lipóico).

O epoxicaroteno formado nos fumantes é, sem dúvida, um agente ALTAMENTE CANCERÍGENO. Aliás, como outros produtos também encontrados no plasma dos fumantes crônicos (isoprostanos).

Acho que devemos, sim, repensar as doses muito elevadas de ácido fólico (acima de 1mg/dia), mas não creio nesse risco nos níveis de 0,8mg/dia mostrados por Ebbing e sua equipe. Pelo contrário, com números bem próximos (0,75mg por dia), estudo também recente de Stidley CA & cols - Cancer Res. 2010 Jan 15;70(2):568-74, Multivitamins, folate, and green vegetables protect against gene promoter methylation in the aerodigestive tract of smokers - os pacientes se beneficiaram com a suplementação e proteção contra alterações no DNA.

Vamos continuar observando e estudando.

Celio Mendes