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quinta-feira, 27 de março de 2014

Restrição Calórica, Saúde e Longevidade

Já venho escrevendo sobre esse fascinante tema há algum tempo, inclusive em postagens mais antigas. Mas, assistindo à brilhante aula do brilhante Prof. Ítalo Salzano no CENTRO DE ESTUDOS HELION PÓVOA (abaixo o endereço), me senti motivado a retomar essa conversa com vocês.

Primeiro: somente em 2010 finalmente foram enunciadas as primeiras definições para Restrição Calórica. Inicialmente, há várias décadas atrás, falava-se em 20 a 40% de redução na ingestão diária de calorias. Restrição severa foi considerada na faixa de 45%. A ingestão média da população foi recentemente estipulada em 2.700kcal/dia para a população masculina - a feminina é cerca de 10 e 15% menor.
As definições recentes falam entre 16 a 25% de redução calórica, possivelmente porque valores mais altos, na faixa de 40%, podem trazer efeitos colaterais como baixa de imunidade. Uma redução de 25% na redução calórica diária da população, sem dúvida, traria ganhos imensos para a saúde. Estamos falando na adoção imediata da ingestão diária de 2.000kcal nos primeiros 3 meses. Somente após poderíamos prosseguir com segurança para atingir a tão sonhada meta dos 1.800kcal/dia e até 1.500kcal/dia.

Segundo: redução de calorias sim, porém restrição de nutrientes NÃO! Por isso a importância do acompanhamento médico/nutricional, pois já foram registrados casos em que, por conta própria, pessoas fizeram programas de redução não só de calorias, mas também dos nutrientes vitais (vitaminas, minerais, oligoelementos), por ignorância. Não esqueçamos que alguns minerais como zinco, cromo, selênio, molibdênio, cobre, entre outros, aparecem no organismo em quantidade mínima, mas indispensável. Assim, redução de grupos de alimentos que afetem estes oligoelementos pode trazer sérias consequências à saúde.

Terceiro: indiscutivelmente  a única maneira cientificamente reconhecida para aumentar a longevidade é a restrição calórica. Por isso estamos diante de uma dupla opção pela saúde, reduzir a ingestão calórica é certamente o modo mais simples de reduzir o peso corporal e traz, em longo prazo, o aumento de nossa vida útil!
ARMADILHAS CALÓRICAS: acabei de jantar 4 colheres de arroz (160kcal), 2 conchas de feijão (40 kcal), 2 colheres de abobrinha refogada (30kcal), uma porção de couve (15kcal) e um ovo cozido (80kcal). Somando tudo dá 325kcal. Uma fatia grande de pizza portuguesa oferece 380kcal!!! Portanto, cuidado com as bombas calóricas, por mais tentadoras que sejam. Lógico que não podemos apenas estigmatizar a pizza, é apenas um exemplo. Todos os petiscos são altamente calóricos, empadas, bolinhos fritos, biscoitos (especialmente os recheados 1 unidade = 20kcal). Imagine uma criança de 8 anos que come todo dia um pacote com 20 unidades!

Auxílio oportuno: como a ciência está sempre atenta, já vêm sendo pesquisadas substâncias naturais que simulam estados de restrição calórica. São os chamados "Miméticos da Restrição Calórica" sobre os quais tantos estudos estão sendo publicados.
Resveratrol: o mais antigo nas pesquisas, aquele que se encontra no vinho tinto. Mas não só no vinho, aliás  o teor de resveratrol no vinho nem é tão significativo assim, o que quer dizer que para obter doses satisfatórias deste antioxidante seria necessário beber várias taças por dia, o que implica em nocivo consumo de álcool etílico. Aliás, os estudos nutricionais das últimas décadas mostraram que o resveratrol está distribuído em muitas frutas, não só na uva. Todas as frutinhas vermelhas (chamadas berries) estudadas mostraram teores significativos do resveratrol. Amendoins também contém resveratrol. Frutas vermelhas ainda não bem estudadas podem conter também resveratrol (amora, pitanga).


Kaempferol: um flavonóide que despontou grandiosamente nas pesquisas sobre perda de peso, é um dos importantes componentes da famosa dieta do Mediterrâneo, famosa por proporcionar mais saúde cardiovascular e menor incidência de câncer. Aliás, os mecanismos anticâncer associados ao kaempferol estão cabalmente demonstrados. A principal fonte de kaempferol é a alcaparra. Seguem-se cebolinha, couve e agrião.



Fisetina: o mais recente que vem sendo pesquisado. Já é considerado um dos mais potentes ativadores das sirtuínas, as enzimas responsáveis pelos efeitos benéficos da restrição calórica. Estudos com fisetina mostram que, além do seu marcante efeito mimético da restrição calórica, ela inibe as temíveis metástases cancerígenas. As principais fontes de fisetina são louro, caqui e pepino.


Todos esses componentes estão sendo usados na suplementação nutricional em caráter preventivo das doenças cardiovasculares e câncer ou na busca de auxílio na perda de peso. Tenho em minha biblioteca eletrônica centenas de artigos sobre os três que posso enviar aos interessados. Vejam esse:



* Centro de Estudos Helion Póvoa: Rua Martins Ferreira 75, Rio, palestras às 5ª feiras 10h, entrada franca.

Saudações a todos.

Celio Mendes.

domingo, 23 de março de 2014

Mais LACTOBACILLUS REUTERI.



Cultura de Lactobacillus reuteri.

Artigos recém publicados reforçam a importância desse probiótico descoberto no leite humano e na microbiota humana há algumas décadas. Lactobacillus reuteri é um potente agente colonizador natural, dotado de substâncias bactericidas e fungicidas (reuterina, reutericiclina e reutericina). Todas estão sendo muito estudadas, especialmente reuterina que possui uma estrutura química super simples, porém capaz de eliminar a concorrência bacteriana. Cogita-se seu uso uso na conservação de alimentos, o que nos traria grande vantagem em relação aos atuais conservadores bem mais tóxicos e artificiais.
Esses links abaixo levam vocês a dois artigos super recentes e bem interessantes. 
No 1º, um estudo com crianças de 6 a 36 meses no uso de L. reuteri mostrou a remissão de quadros de diarréia, mostrando regulação da microbiota infantil.
No 2º, pacientes com fibrose cística foram beneficiados pela diminuição de proteobactérias, que danificam a microbiota humana e provocam inflamação.



Estrutura de Lactobacillus reuteri.


Pode-se usar a suplementação com o probiótico L. reuteri de várias maneiras:
  1. Cápsulas entéricas (adultos) ou Suspensão Celulósica-HMC (crianças): vamos obter concentração do L. reuteri no intestino, passando direto pelo trato gastrintestinal superior. Vai atuar diretamente sobre a microbiota intestinal.
  2. Cápsulas normais (adultos) ou Suspensão simples (crianças): vamos obter colonização também no trato gastrintestinal superior (esôfago e estômago), o que pode ser interessante para H. pylori (adultos) e para estomatites (crianças).
  3. Jujubas mastigáveis: combate cáries (vários estudos comprovam) e candidíase oral.

Abcs a todos e não esqueçam: hoje é meu aniversário!

Celio Mendes.

quinta-feira, 13 de março de 2014

FISETINA e a FAMÍLIA FLAVONÓIDE

Por quanto tempo temos comido bioflavonóides? Impossível responder com precisão. Recentemente, entretanto, cientistas demonstraram que essas biomoléculas participam da vida no planeta há, pelo menos, milhões de anos, quando descobriram que certos organismos aquáticos (ouriços do mar) só conseguem fazer a fusão dos gametas mediante a presença de QUERCETINA. Ou seja, sem quercetina essas formas de vida não se reproduziriam.


Ouriço do Mar

Este flavonóide - a quercetina - já é um ilustre conhecido nosso, desde que pesquisas médicas (e são milhares!) vem mostrando nas últimas décadas a sua importância como estabilizador de sistemas celulares como os mastócitos em mamíferos. Quercetina já demonstrou, também, que pode diminuir a eficiência da proliferação cancerígena tanto in vitro como in vivoA quercetina é ricamente encontrada na cebola, entre outros.

O reino vegetal é pródigo na quantidade e diversidade dos flavonóides, chamados assim por possuírem o núcleo do composto FLAVONA. São tantos que ficaria cansativo listar todos os conhecidos, mas podemos ressaltar KAEMPFEROL, RUTINA, HESPERIDINA, FISETINA, MYRICETINA, todos de grande importância para a saúde.

Gostaria hoje de focar os estudos com a FISETINA, pois são mesmo surpreendentes. Este flavonóide cuja presença nos alimentos parece ser menos marcante do que seus parentes, demonstra um forte potencial anticancerígeno. Pesquisas mostraram que fisetina pode bloquear proliferação cancerígena de vários modos. Um dos mais discutidos e relevantes é a metástase, simplesmente uma tragédia na luta contra o câncer. Através das metástases as células cancerígenas migram de um órgão para outro, inviabilizando ou dificultando sobremaneira o tratamento.
Um dos mecanismos já identificados ligados a essa capacidade da fisetina é a inibição de um grupo de enzimas - as metaloproteinases - responsáveis pela "abertura de caminho" para a invasão cancerígena em órgãos vizinhos. Um outro grupo de enzimas denominado de UROKINASES também é sensível à ação biológica da FISETINA, diminuindo igualmente o potencial das células cancerígenas de invadir os tecidos e órgãos. Já são várias pesquisas publicadas neste sentido e vamos listar abaixo os LINKs para os interessados em obter mais informações. 



Mas não é só esse o mecanismo anticancerígeno da FISETINA: ela aprisiona possíveis células cancerígenas no estágio pré-mitótico, impedindo a proliferação do câncer e ainda coordena a ação de enzimas encarregadas de promover a autodestruição das células quando sofrem alterações de DNA que podem levar ao câncer.


Além da ação anticancerígena, cujos mecanismos estão resumidos acima, a FISETINA apresenta interessantes atividades de neuroregeneração, inclusive com relação ao tecido amilóide presente no cérebro portador do mal de Alzheimer.

 Realmente são surpreendentes as propriedades médicas deste flavonóide catalogadas em mais de 400 publicações na PubMed.

Agora, as pesquisas que demonstram uma impressionante ação da FISETINA na proteção do tecido ósseo é que está despertando tanto interesse. Ela mostrou ser capaz de conter a tão famigerada proliferação dos osteoclastos, células digestoras do osso, causando a osteoporose. Além disso, simultaneamente, FISETINA estimula o crescimento e colonização dos osteoblastos, as células que conjugam cálcio e proteínas trabeculares, formando o osso. Realmente sensacional esta pesquisa.


A Fisetina, entre os flavonóides já estudados, é a que apresenta menor teor nos alimentos, e também menor diversidade nos vegetais. Mas isso pode mudar: neste ponto as pesquisas estão apenas no começo. Até agora as fontes mais significativas são:



A família dos flavonóides, bem assim a dos carotenóides, ambas demonstraram indubitavelmente serem importantes para a preservação da vida e saúde celulares, portanto dos organismos vivos. Não são considerados ainda elementos nutricionais essenciais, como as vitaminas, minerais e aminoácidos. Mas como viver bem sem ambos, flavonóides e carotenóides. É preciso refletir sobre isso, pois esses produtos estão incorporados em nossa dieta saudável. Ou seja, a dieta que as vovós sempre recomendaram: muitas frutas, legumes e hortaliças. Nada mudou neste sentido, elas continuam certas, ainda que não soubessem o porque. Vai explicar... Há muito mais entre o Céu e a Terra que a nossa vã filosofia, bom vocês sabem o resto do pensamento.

A propósito, a tão famosa dieta do mediterrâneo é riquíssima nestes componentes.

Fisetina já está disponível no Brasil para suplementação nutricional. O primeiro laboratório de manipulação a disponibilizar foi Avena farmacêutica.

Alguns links para vocês se divertirem!











Bom, divirtam-se e se precisarem mais dados peçam pelo e-mail.

Saudações aos colegas, alunos e ex-alunos!

Celio Mendes de Almeida.