Pesquisar no blog

sábado, 19 de setembro de 2020

O SISTEMA IMUNE FRENTE AO NOVO CORONAVÍRUS SarsCov2 - Part 1

Temos com o advento do NOVOCORONAVIRUS (SarsCov2) a oportunidade única de rever os conhecimentos sobre o nosso sistema imunológico, uma vez que fica cada vez mais evidente uma predisposição de parte significativa da população para uma evolução ruim da infecção.

Isto nos mostra que há lacunas a preencher sobre o funcionamento conjunto das células detectoras de antígenos e as efetoras (fagocíticas), assim como as apresentadoras de antígenos e as produtoras de anticorpos.

Nosso sistema imune é tal qual um exército com vários soldados especializados que funcionam em íntima comunicação, regida por uma ampla gama de mensageiros químicos: as citoquinas, os peptídeos imunoativos e também hormônios, vitaminas e minerais.

Por volta de 1820 as primeira observações sobre os leucócitos foram relatadas por Donnè, Gulliver e Addison, independentemente. Por volta de 1880 Paul Erlich desenvolve uma nova técnica de coloração que permite a identificação dos diversos leucócitos, começando pelos granulócitos (neutrófilos, basófilos e eosinófilos) Em 1883 Metchinikoff descobre o processo de FAGOCITOSE, no qual células do sistema imune absorvem e destroem bactérias e vírus.

Já no século XX os cientistas descobrem que nossos "soldados" não funcionam aleatoriamente, mas sim regidos por um comando central, os LINFÓCITOS, que se utilizam de mensageiros químicos (citoquinas) para coordenar a ação contra os agentes invasores.

Parece esse o ponto chave da questão que nos obriga a repensar a imunologia, diante da pandemia COVID-19. Haveria alguma lacuna neste complexo sistema de comunicações entre nossas células da defesa que implicaria nessa predisposição de certo grupo de pessoas para ter um quadro grave da infecção, enquanto mais da metade da população parece passar incólume por ela?

Onde estaria essa lacuna? Nos comandos emitidos pelos linfócitos CD4 para os CD8, estes os verdadeiros "caçadores" e destruidores de vírus e células infectadas por vírus? Ou será que nessas pessoas predisponentes a própria distribuição celular, especialmente CD8, estaria prejudicada?

Um dado importante que foi divulgado nesta semana já nos dá uma pequena ideia de que possa haver realmente alguma diminuição de CD8 nessas pessoas predisponentes. Para surpresa geral dos imunologistas, pela primeira vez cientistas demonstram haver DIFERENÇA na RESPOSTA IMUNE entre HOMENS e MULHERES - Carolyn Mazure & Akiko Ywasaki da Universidade de Yale nos EUA fizeram um estudo onde mostram que 60% das mortes ocorrem em pacientes masculinos. No seu estudo eles sugerem uma pequena diferença na atividade específica dos linfócitos "T" a favor das mulheres - desses linfócitos surgem os subtipos CD8. Acho que isso precisa ser muito investigado daqui para a frente, pois é uma proposição inédita na imunologia.

Por outro lado, deixando um pouco de lado a hipótese de falha nos mensageiros químicos que coordenam as células da defesa, já se propôs que a população de linfócitos "T" na rede capilar das vias respiratórias, começando pela mucosa nasal, seguindo pela oro-faríngea e descendo pelos brônquios e bronquíolos seria fundamental para como vai evoluir a doença no indivíduo contaminado. Havendo abundância de células "T" e os sinalizadores para sua transformação em CD8 (também CD4), a evolução da doença seria muito mais branda, porque não permitiria a fixação do SarsCov2 na mucosa das vias respiratórias mais internas (brônquios, bronquíolos e alvéolos pulmonares). Temos o problema dos receptores da enzima ECA (enzima conversora de angiotensinogênio), muito abundante tanto no endotélio vascular, como no endotélio dos tubos e superfícies das vias respiratórias (também nos vasos linfáticos). O SarsCov2 utiliza esses receptores para fincar suas espículas e colonizar as células. Se o vírus foi manipulado ou não, eu não sei. Mas isso é um comportamento estranho - e muito nocivo.

É exatamente a chegada de grandes quantidades de partículas virais nos bronquíolos e mucosa pulmonar na COVID-19 que provoca a terrível síndrome respiratória aguda, através de uma reação inflamatória grave. Essa reação violenta já é decorrente da ação de outras células menos específicas, os macrófagos por exemplo, que são potentes destruidores de células invasoras, mas também destroem células de nossos tecidos quando verificam essa situação de invasão exacerbada - eles ficam hiperativados e podem promover sérias lesões teciduais e até necrose.

Então, parece que está ficando cada vez mais claro que uma resposta imunológica tardia na COVID-19 é produtora de quadro inflamatório muito sério, estimulado por o que chamam "tempestade de citoquinas". Sabemos perfeitamente que a busca por vacinas ou medicamentos é o foco principal nesse momento, mas, se não destacarmos um grupo de pesquisadores competentes para investigar profundamente as diferenças que possam haver entre as pessoas mais predisponentes à COVID-19, perderemos uma oportunidade ímpar, que se apresenta em um pandemia com um número de pessoas infectadas que confere alto valor estatístico aos resultados por ventura encontrados. Mãos á obra imunologistas! Vamos fundo no estudo de MCH-II, GcMAF, NAF, INTERLEUCINAS, INTERFERONS e cia ltda nestes doentes! A hora é agora, precisamos descobrir muito mais sobre isso.

OUTRO TEMA IMPORTANTE: o estado nutricional e a resposta imune. muito tem sido falado sobre VITAMINA D e ZINCO. O volume de pesquisas sobre a influência desses dois nutrientes na imunidade é tão grande que chega a ser um desserviço o que alguns cientistas estão fazendo, debruçando em revisões para desacreditar, principalmente a Vit D. Até entendo a preocupação de não se iludir a população com falsos tratamentos, isso realmente seria muito grave. Mas publicar artigos negando a absoluta importância da vitamina D para o sistema imune, isso chega a ser ridículo a esta altura. GcMAF (ativador do macrófago) e NAF (ativador dos neutrófilos), só para citar dois exemplos, são proteínas fundamentais para os sistema imune e são produzidas nas células mediante comando da VITAMINA D - ela controla um número ainda não totalmente calculado de genes, possivelmente mais de 400. Dizer isso não implica em aconselhar as pessoas a tomar vitamina D para curar a COVID-19, óbvio que é muito mais complexo. Mas, a avaliação criteriosa dos níveis de vitamina D no sangue e manutenção de níveis estáveis e eficientes (>30ng/ml) pode muitas vezes necessitar de suplementação externa. PRINCIPALMENTE AGORA QUE TUDO VAI MUDAR.

Acaba de ser publicado um estudo que vai mudar tudo o que vínhamos fazendo em relação ao monitoramento da vitamina D no sangue. Fora desta interminável discussão sobre valores mínimos aceitáveis, variando de 20ng/ml a 40ng/ml (para alguns 60ng/ml), cientistas acabam de mostrar que a forma com que estávamos medindo e relacionando esses valores (VIT D TOTAL) não é a mais adequada! Leen Antonio do Hospital Universitário de Leugen, Bélgica e sua equipe verificaram que a FRAÇÃO LIVRE DA VITAMINA D é que vai, de fato, determinar se estamos bem ou não com esse HORMÔNIO-VITAMINA. Em média apenas cerca de 1% da vitamina D circula livre pelo sangue, o restante fica ligado a proteínas. Os cientistas de Leen Antonio estão propondo avaliar a fração livre e relacioná-la com a fração total para, de fato, indicar a real BIODISPONIBILIDADE da vitamina.

Poderá ocorrer, com esses novos estudos, de uma pessoa estar dentro da faixa mínima aceitável de 20ng/ml (minha opinião mínimo 30ng/ml), mas mesmo dentre dessa faixa considerada aceitável, se estiver com a fração livre diminuída, estará em péssima situação. Como é uma pesquisa muito nova, levará um tempinho para chegar às interpretações de exames nos laboratórios. Mas, vamos convir que pensar em MÍNIMO ACEITÁVEL para indicadores de saúde não é um modo muito inteligente... Já dizia o saudoso é único PROFESSOR HELION PÓVOA FILHO.

AGORA O MAIS SÉRIO NESSA DISCUSSÃO é que muitos estudos antropométricos mostram déficits de vitamina D em percentuais significativos da população, em vários países onde foram feitos os estudos - um estudo recente na Índia mostrou elevados níveis de deficiência. David Meltzer e sua equipe recém publicaram, também, um estudo relacionando o déficit de vitamina D (<20ng/ml) em até 26% das pessoas com COVID-19: conclusão foi de que essas pessoas tiveram quadros mais graves da doença.

FALAR UM POUCO SOBRE O ZINCO: este elemento mineral já foi bem estudado quanto ao seu papel no sistema imune. Há dados que confirmam sua atuação indispensável no processo de DIFERENCIAÇÃO e MATURAÇÃO dos leucócitos, especialmente os LINFÓCITOS - um dos principais sítios onde isso ocorre é a glândula TIMO, mas também pode ocorrer em outros órgãos, na própria medula óssea, por exemplo. Déficit de zinco já foi detectado em frações significativas de populações, especialmente as que tem menos acesso a alimentos marítimos, onde estão as principais fontes desse elemento muito importante para nossa biologia. Relatos de situações de elevada desnutrição de zinco em populações carentes mostram sempre resposta imune fraca e letárgica. O volume de pesquisas sobre o ZINCO e IMUNIDADE é tão grande que não poderíamos nesse momento listar e comentar todos os estudos. Monitoramento do zinco é importante, e quando necessário, suplementar mas escolhendo sempre a forma orgânica quelada com aminoácidos - ZINCO GLICINA.

Temos mais a falar sobre os nutrientes na imunidade, por exemplo as GLUCANAS. Mas vamos deixar para o próximo capítulo. Espero vocês.


terça-feira, 11 de fevereiro de 2020

FINALMENTE DESCOBERTO UM TIPO DE IMUNIDADE ANTICÂNCER TRANSFERÍVEL ENTRE OS PACIENTES (MR1/TCR ativadores de T-Cells especializadas). Elimina todos os tipos testados, incluindo os invasivos como o melanoma.
(Artigo por Celio Mendes / GEHP – Grupo de Estudos Helion Póvoa)
Um novo receptor nas T-Cells foi descoberto, com grande capacidade de identificar e eliminar células cancerígenas – isto torna essas células capazes de eliminar vários tipos de câncer, sem danos às células saudáveis, através de um novo mecanismo imunológico descoberto.
Após a publicação do “Genome-wide CRISPR-Cas9 screening reveals ubiquitous Tcell câncer targeting via the nomomorphic MHC class I related protein MR1”, na importante revista NATURE, em fevereiro desse 2020, a compreensão desse novo mecanismo pode substituir o já empregado método de terapia celular denominado CART-1, onde T-cells são retiradas dos pacientes e reprogramadas de acordo com o tipo de câncer para tratamento.
Nessa nova descoberta, para matar as células cancerosas, as T-Cells utilizam um recém descoberto receptor denominado T Cell Receptor (TCR), que inspeciona as proteínas na superfície da membrana de todas as células. Se há uma proteína anormal – por exemplo uma célula cancerosa ou uma célula infectada por vírus – os TCR podem ser ativados nas T-Cells, estimulando-as a matar as células defeituosas.
Melhorar a eficácia das imunoterapias anticâncer tem sido um desafio. O problema com algumas delas (CART1) é a necessidade de um grupo de moléculas denominadas HISTOCOMPATIBILITY COMPLEX (MHC), que varia muito de pessoa a pessoa. O MHC complex é necessário para a ativação das T-Cells, dependendo das células apresentadoras de antígenos. Na verdade, essas células apresentadoras de antígenos recolhem pedaços de células defeituosas e ligam no MHC complexo, porém devido à grande diversidade deste complexo, o tratamento apresenta algumas dificuldades.
Neste novo estudo, os pesquisadores identificaram um tipo especial de T-Cell com um novo receptor (TCR), que NÃO NECESSITA do complexo MHC para agir, mas sim através de uma única proteína denominada MR1.
O MAIS IMPORTANTE: a sequência da proteína MR1 não varia individualmente, como as proteínas do MHC complex.
MR1 exerce o papel de reconhecimento em metabólitos de bactérias, mas não havia sido, ainda, implicada na imunidade contra o câncer.
Os pesquisadores testaram essas T-Cells com o novo receptor (TCR) contra diversos tipos de cepas de células cancerígenas (pulmão, melanoma, leucemia, mama, próstata e ovário)
As T-Cells ativadas foram capazes de eliminar todas elas, com eficiência superior 80% (em muitos casos 100%), o mesmo não ocorrendo com MHC complexo no CART1, reforçando que essa imunidade anticâncer é realmente devido à proteína MR1 – a nova descoberta.
Entretanto, essas T-Cells especiais, ativadas por MR1 e TCR, não apresentam absolutamente nenhum efeito nocivo sobre células normais.
Os testes com animais (leucemia) injetados com as T-Cells/TCR/MR1 mostraram que, após 18 dias, menos de 10% das células da medula óssea ainda estavam com a anomalia. Esses animais sobreviveram muito mais após o tratamento.
Finalmente, os pesquisadores pegaram T-Cells de um indivíduo com melanoma e modificaram para expressar MR1 em TCR. As células modificadas não só foram capazes de matar as células com melanoma do paciente original, mas também de outros pacientes!
Esta descoberta pode mudar totalmente a abordagem imunoterapêutica no câncer, afirma Andrew Swell (PhD), da Universidade de Cardiff.

terça-feira, 8 de janeiro de 2019

IRISINA: QUE HORMÔNIO É ESTE?

Quando a gente pensa que todos os hormônios do corpo são conhecidos surge uma nova descoberta, um hormônio produzido no músculo esquelético, a IRISINA (IRISIN).

Sua descoberta em 2012 (Bruce Spiegelman, biólogo) trouxe imensa curiosidade, porque logo de início este hormônio foi vinculado à transformação de gordura branca (WAT) em gordura marrom (BAT). Como sabemos, a gordura branca - menos vascularizada - é um grande obstáculo à perda de peso e está associada à sobre peso e obesidade mórbida.

Porém, surpreendentemente, a IRISINA acaba de ser relacionada à preservação da memória e já está sendo associada ao mal de ALZHEIMER.

Pesquisa recém publicada, com participação de cientistas brasileiros liderados pela neurocientista FERNANDA DE FELICE (em colaboração com FERNANDA TOVAR-MOLL) e do bioquímico SERGIO FERREIRA, ambos professores da UFRJ, evidencia que a IRISINA tem um papel neuroregenerador e de proteção contra os distúrbios neurotóxicos encontrados nos pacientes com mal de Alzheimer (fibrilação Tau e beta-amilóide). Não deixa de ser uma descoberta surpreendente, já que o hormônio vinha sendo pesquisado em outras linhas, especialmente no metabolismo bioenergético. Em suas pesquisas, os cientistas verificaram que a IRISINA pode regenerar tecido nervoso de conexão (sinapses) após destruição pelos fenômenos encontrados no mal de Alzheimer (comprovado em modelos animais):


De Felice, Tovar-Moll e Ferreira provaram em paciente com Alzheimer que os níveis de IRISINA são a metade quando comparados a indivíduos saudáveis, medido no LCR. A seguir, Mychael Lourenço (UFRJ) e Rudimar Frozza (FIOCRUZ) mostraram que animais (ratos e camundongos) que a IRISINA aumenta a capacidade cognitiva. Os pesquisadores relatam que entre os mecanismos de ação do hormônio contra a doenças de Alzheimer está sua capacidade em inibir a aglomeração (fibrilação) do peptídeo beta-amilóide.
A pesquisa é tão recente que ainda houve tempo de publicar em texto, apenas on line. Veja o link:
https://www.nature.com/articles/s41591-018-0275-4

Realmente impressionante esse descoberta, e pensar que há apenas 7 anos atrás sequer conhecíamos essa molécula! Como o interesse nesse hormônio está muito intenso, é natural que outras descobertas estejam sendo realizadas.
E o melhor: medicamentos que em uso na clínica cardiológica podem favorecer a expressão deste hormônio, como veremos mais abaixo no texto.

PRINCIPAIS BENEFÍCIOS DA IRISINA DESCOBERTOS ATÉ O MOMENTO:
  • Reduz a RESISTÊNCIA À INSULINA e diminui hemoblobina glicada.
  • Contribui para PERDA DE PESO, ao favorecer a conversão de gordura branca em gordura marrom e por estimular a liberação da proteína desacopladora UCP-1. Como sabemos, este é o principal mecanismo termogênico, sequestrando elétrons da CRM e forçando ao gasto bioenergético.
  • IRISINA (ao ser estimulada pelo exercício) libera o fator PGC1a, controlador dos receptores ativados dos peroxissomas (PPAR-a e PPAR-g), melhorando o metabolismo lipídico e diminuindo o acúmulo de gordura no tecido adiposo.
  • Recentemente IRISINA foi relacionada com diminuição de perda óssea, através do mecanismo RANK-L (inflamatório no osso).
  • ANTI-ENVELHECIMENTO: pesquisas estão mostrando que IRISINA contribui para manutenção dos TELÔMEROS - como sabemos, a redução dos telômeros é um dos aspectos inerentes ao envelhecimento. Ao proteger os telômeros, irisina tem ação anticancerígena.
  • Protege o sistema vascular, incluindo coração e cérebro através do aumento de óxido nítrico (NO), diminuição da resistência periférica e da PA.
  • ANTINFLAMATÓRIO e ANTIOXIDANTE: efeitos verificados nas pesquisas com modelos animais onde a IRISINA mostrou reduzir interleucinas inflamatórias (IL-6) e citoquinas (TNF-alfa), além de MIP 1-alfa e 1-beta (proteínas inflamatórias liberadas pelos macrófagos).
  • AUMENTA O BDNF: assim estimula a plasticidade neuronal e o aprendizado, o que levou aos estudos e descobertas recentes sobre a aplicação de IRISINA no mal de ALZHEIMER.

O mecanismo pelo qual IRISINA aumenta a GORDURA MARROM:



Aumentando a liberação de UCP-1 (proteína desacopladora 1) na mitocôndria, IRISINA ajuda a retirar elétrons ao final da respiração mitocondrial, forçando, assim, o gasto de energia basal (captada do tecido adiposo de reserva) e liberando calor (termogênese).

COMO AUMENTAR OS NÍVEIS DE IRISINA:
  • EXERCÍCIO: sem dúvida a maneira mais eficiente de aumentar os níveis de IRISINA, entretanto precisa ser exercício aeróbico de intensidade média a alta. O HIIT (high intensity interval training) é plenamente recomendado.
  • MULHERES: a diminuição dos ESTRÓGENOS contribui para a redução de IRISINA no organismo, portanto a TRH nas mulheres na menopausa ou peri-menopausa é encorajada.
  • TEMPERATURA: os extremos estimulam a IRISINA, sauna ou banho em água fria (< 18ºC), porém cuidado com hipotermia.
  • GH: evidenciou aumentar os níveis de IRISINA. Não deve ser usado sem rígido acompanhamento médico, pois é um hormônio proliferativo.
  • VIBRADORES: dispositivos que induzem vibração no corpo também podem aumentar a IRISINA.
  • MEDICAMENTOS e SUPLEMENTOS que AUMENTAM a IRISINA: vejam a seguir.
METFORMIN: conforme estudos publicados, este medicamento aumenta os níveis de IRISINA. Metformin é medicação indicada no diabetes II e tem sido empregada com frequência. Sua ação sobre a UCP-1 é conhecida, aumentando sua oferta na mitocôndria. Veja no link:

COMPLEXO "Q": reunindo a coenzima Q10, ubiquinol e pirroloquinolina quinona (PQQ), este complexo é de suma importância na performance mitocondrial. Além de ser um grande auxílio nas doenças hoje designadas por "DISFUNÇÕES MITOCONDRIAIS", de caráter neurológico (Parkinson, ELA, EM), o complexo "Q" é o conjunto de antioxidantes mais importante ao funcionamento da mitocôndria. A PQQ atua em nível do genoma, estimulando a mitocondriogênese. O papel do UBIQUINOL é fundamental, posto que aumenta a disponibilidade de CoQ10 na mitocôndria. Vejam no link:

Fórmula sugerida de COMPLEXO "Q":
Coenzima Q10 ............... 100mg
Ubiquinol ......................... 25mg
PQQ ................................. 10mg
Tomar uma cápsula pela manhã e outra à tarde.

ESTATINAS: estudos realizados com SINVASTATINA mostraram que esses medicamentos, muito usados para redução de colesterol, podem aumentar os níveis de IRISINA. Vejam os links:

Havendo novas atualizações estaremos publicando aqui. E congratulações aos pesquisadores brasileiros por seu maravilhoso trabalho! É com orgulho que vejo a minha querida UFRJ, onde me formei, produzindo pesquisa de tal nível com seus professores e a colaboração da nossa lendária FIOCRUZ! Parabéns a todos.

Celio Mendes






sexta-feira, 4 de janeiro de 2019

FLOROGLUCINOL: biomolécula neuroprotetora e anticarcinogênica.


Pesquisas recentes têm mostrado a importância do FLOROGLUCINOL (Phloroglucinol) na biologia, especialmente nos mamíferos - incluindo o homem. É uma molécula presente nos vegetais e que apresenta ações interessantes, como por exemplo o efeito inibitório sobra a enzima alfa-GLUCOSIDASE.
Existem dois tipos de glicose, um ativo biologicamente (D-Glicose) e outro inerte (L-Glicose). A forma ativa (D-Glicose) apresenta dois isômeros alfa e beta. A polimerização da alfa-glicose produz os amidos, enquanto com a beta-glicose se produz celulose glucanas (fibras).


Normalmente, os amidos são prontamente utilizáveis como nutrientes, pela facilidade de despolimerização enzimática. Já a celulose e as glucanas não são fontes de energia para metabolismo humano, funcionando como prebióticos (facilitadores da colonização simbiótica na microbiota intestinal) e como agentes de "limpeza" das vilosidades. A menos que a microbiota esteja desregulada, com aumento na população das bactérias metanógenas (M. smithii, B. tethaiotamicron e E. rectale) - nesse caso, como já temos colocado em nosso curso de especialização no GRUPO DE ESTUDOS HELION PÓVOA, esses simbiontes podem sim despolimerizar glucanas e até celulose! Sobre esse tema voltaremos a falar em breve.

Está provado que ingestão adequada de fibras - conforme a American Heart Association, uma ingestão adequada seria entre 20 e 30g/dia, obtida na alimentação. Entretanto, os dados antropométricos dos cidadãos americanos apontam um ingestão de apenas 15g/dia. Assim, poderíamos pensar em melhorar a alimentação e numa possível complementação dietética de fibras na faixa de 1 a 3g/dia.

Entre as principais fibras para complementação estão PECTINA, INULINA, PSYLLIUM, GLUCOMANAN, GALACTOMANAN, GUAR. Uma formulação  contendo 250mg de cada pode ser muito útil, para administração duas vezes ao dia, com bastante água (se der pouca água vai sugar umidade na luz intestinal, provocando constipação). Pelo menos 200ml de água com o sachet.


Mas voltando ao assunto das enzimas GLUCOSIDASES (alfa e beta), a alfa-glucosidase vai agir sobre os amidos, liberando mais rapidamente glicose para uso bioenergético. Por isso medicamentos inibidores da alfa-glucosidase são utilizados (Glucobay, Aglucose) como suporte aos pacientes com diabetes II. Já a beta-glucosidase age sobre glicosídeos e fibras, como celulose e glucanas, também liberando glicose dessas moléculas.

O mecanismo de ação proposto para a AMIGDALINA ou VITAMINA B17 no câncer baseia-se no elevado contingente glicosidases nas células cancerígenas, super capacitadas para sobrevivência e multiplicação (por isso drenam tanta energia do doente). Neste caso da B17, verifica-se forte inibição da BETA-GLUCOSIDASE, capaz de fornecer glicose por vias acessórias para a célula cancerígena (pela hidrólise de glicosídeos disponíveis na alimentação e após o metabolismo hepático - não esqueçamos que a glicuronidação hepática é a principal via de tratamento para os flavonoides, polifenóis e também para xenobióticos.

Então, vejam quanta disponibilidade de açúcar a célula cancerígena tem através desse hiper expressão de BETA-GLUCOSIDASE! Ela pode obter energia de diversas outras fontes além do amido e açúcar livre - é estimado que a célula carcinogênica apresente um nível 3.000 vezes maior de beta-glucosidase em relação às células normais. A ação da beta-glicosidase sobre a amigdalina, um polissacarídeo contendo tiocianato, libera cianeto dentro da célula cancerígena impedindo a utilização do oxigênio na respiração celular - isto leva à morte da célula. Como os níveis de beta-glicosidase nas células normais é muito baixo, isto não é suficiente para liberar o HCN, não sendo, pois, tóxico às células saudáveis. Veja abaixo:


O PAPEL DAS GLUCOSIDASES NO CÂNCER: infelizmente, como tem sido descoberto com o avanço nas pesquisas, as células cancerosas são muito preparadas para a proliferação e sobrevivência, objetivando ocupar todo o organismo "hospedeiro". Elas se equipam com enzimas, proteínas, fatores de crescimento, receptores de membrana, enfim toda uma maquinaria biológica essencial para sua proliferação, utilizando tudo que é "self". Ou seja, não pegam nada de fora, só de nosso organismo. Por isso é tão difícil combater os vários tipos de câncer: normalmente o que mata a célula cancerígena também mata a célula saudável. Por isso essa busca incansável dos pesquisadores para encontrar medicamentos ou moléculas naturais que possam ajudar a diminuir a viabilidade das células "invasoras". Já falei anteriormente sobre um fóssil de ouriço do mar de milhões de anos, onde se encontrou os oncogenes H-ras e C-myc, mostrando que chamamos de câncer pode ter sido o início da vida pluricelular.

Mas, enfim, sobre moléculas naturais que podem diminuir a viabilidade bioenergética do câncer estão os INIBIDORES DE GLUCOSIDASES: alfa-glucosidase (floroglucinol, acarbose) e beta-glucosidase (amigdalina), porque dificultam a captação de glicose tanto das fontes abundantes, como os amidos, como de fontes alternativas, glicosídeos e celulose.

Outras ações benéficas de floroglucinol são pertinentes ao sistema neurológico, atuando como neuroprotetor e nas doenças neurodegenerativas.

ESTUDOS COM FLOROGLUCINOL (clique no link para acessar o artigo):

FLOROGLUCINOL está sendo usado em suplementos com dosagem entre 80mg e 120mg, pode ser obtido na manipulação.
Recomendo a Avena farmacêutica.

ATENÇÃO: estão abertas as inscrições para o "CURSO de ESPECIALIZAÇÃO em SAÚDE ORTOMOLECULAR", no GEHP. Os interessados favor contatar pelo ZAP (21) 95904-3542.






quinta-feira, 20 de dezembro de 2018

Azul no Fim do Túnel.

As pesquisas com o CLORETO DE METILTIONÍNIO (azul de metileno) surpreendem a cada momento. Após teste com humanos em 2016 que mostrou a capacidade dessa substância em aumentar a conectividade neural e inter-hemisférica no cérebro (Rodriguez, Zhou & cols), a substância passou a ser relatada em vários outros estudos como opção no tratamento da perda ou diminuição de memória, incluindo casos mais graves como Alzheimer. 
No estudo de Rodriguez & cols o registro através de imagens obtidas em ressonância magnética (MR) mostraram evidências dos efeitos do metiltionínio:


Vários estudos comprovam, sequencialmente, o poder do cloreto de metiltionínio em melhorar a memória e fadiga mental, além de atuar como antidepressivo e na melhoria do sono. Abaixo ofereço os links dos principais artigos publicados sobre o assunto, mostrando a relevância do cloreto de metiltionínio (azul de metileno = MB) nos casos de perda ou diminuição da memória (clique para acessar):

Num outro estudo, Rodriguez e cols mostraram a marcante ação proativa de MB em humanos:


IMPORTANTE ENTENDER: tantos efeitos benéficos do metiltionínio precisam ser muito bem esclarecidos, já que mais pesquisas - que mostraremos ainda neste artigo - apontam os benefícios do MB nas neurodegenerações e também nas doenças inflamatórias, incluindo osteoartrite. O que podemos afirmar, no momento, é que a molécula de MB apresenta características muito interessantes, especialmente o seu potencial como agente ANTI-GLICANTE das proteínas, um fenômeno claramente envolvido com inflamação e envelhecimento. Aliás, como já preconizava o grande professor Helion Póvoa Filho, no início da década de 1990, a glicação precisava ser melhor estudada pois demonstrava uma interligação muito forte com o processo de envelhecimento nos animais testados em laboratória. Após a descoberta dos agentes glicantes denominados AGEs (advanced glycated end products), provenientes de resíduos do açúcar (cetonas e aldeídos) tudo mudou nessa pesquisa. Logo se descobriu como o corpo reagia às proteínas destruídas pela glicação, com uma forte reação inflamatória comandada nos receptores RAGEs, que respondia com a imediata ativação do fator inflamatório mais importante no organismo: o NFkB.

Assim, podemo dizer que, em última análise, a glicação das proteínas está intimamente ligada à INFLAMAÇÃO em ampla escala, no organismo, atingindo tecido nervoso, cérebro, tecido cartilaginoso, sistema imune, rins e aparelho respiratória. É fácil compreender porque os AGEs têm tanto poder de gerar inflamação disseminada no corpo todo: sendo as proteínas as moléculas mais distribuídas em todo o corpo, seja como enzimas, hormônios e peptídeos hormonais, na membrana celular, nos axônios e dendritos, na micróglia e nos tecidos de forma geral, a deturpação ou degeneração dessas moléculas causam grande efeito nocivo ao metabolismo.


ESTRUTURA SULFO-NITROGENADA DE MB PODE EXPLICAR AÇÃO
ANTI-GLICANTE E ANTIOXIDANTE:



Talvez se confirme em breve tempo que o grande mérito do CLORETO DE METILTIONÍNIO (MB) seja, de fato, um potente efeito ANTI-GLICANTE. Daí atuar na melhoria de doenças neurológicas, renais, inflamatórias e na depressão, já que o viés inflamatório nessa doença está cada vez mais confirmado.

Veja esse artigo que mostra o potencial de MB como antiflamatório, mesmo após indução de inflamação cerebral com LPS (lipopolissacarídeos residuais de bactérias) em animais. Link:

Além dos efeitos positivos sobre a memória e de proteção ao tecido cerebral e nervoso, o MB está se destacando por uma ação antidepressiva cujos mecanismos parecem estar ligados ao aumento de dopamina e nor-adrenalina, além de modulação nos neurotransmissores GABA e serotonina.
Vejam que interessantes estes artigos (basta clicar no link para acessar o artigo):

Há estudo mostrando a aplicação do MB em transtorno bipolar, testado em 37 pacientes originários de tratamento parcialmente eficaz com lamotrigina. O resultado transcrito do artigo publicado:
"Methylene blue use as an adjunctive medication improved residual symptoms of depression and anxiety in patients with bipolar disorder".
Trad: "Azul de metileno usado como medicação adjunta melhorou os sintomas residuais de depressão e ansiedade em pacientes com distúrbio bipolar".





Mais um campo de uso para o MB: doenças inflamatórias (como osteoartrite). Veja no link abaixo:

Agora, como dizem os ingleses, "at last, but not at least", um ESTUDO BRASILEIRO, num caso de uma criança politraumatizada (atropelamento). A equipe do hospital da Escola de Medicina de Ribeirão Preto (USP) publicou o resultado de tratamento em UTI com AZUL DE METILENO, revertendo a instabilidade da PA, após grande cirurgia. Após tentativas infrutíferas de restabelecer o estado de choque e PA diminuída, os médicos decidiram usar MB por infusão endovenosa, revertendo o quadro em apenas 2 horas. Uma frase chama atenção no artigo publicado:
"WHY SHOULD AN EMERGENCY PHYSICIAN BE AWARE OF THIS?"

Vejam o abstract:



Os dados consistentes sobre os inúmeros benefícios do CLORETO DE METILTIONÍNIO à saúde precisam ser compartilhados com médicos e profissionais de saúde, para que possam ajudar os doentes e os que ainda não estão doentes, visto que o caráter preventivo do MB em doenças neurodegenerativas e inflamatórias é muito significante. Aqueles que quiserem mais informações sobre doses e posologias podem me contatar pelo ZAP: (21) 99616-6806.

Saudações a todos!

Celio Mendes.

quarta-feira, 12 de dezembro de 2018

A ARTE DA FORÇA

O sucesso no esporte, em todas as suas modalidades, depende da força muscular e da resistência. Até algumas décadas atrás a chave para o sucesso residia somente no treinamento. A partir da década de 1980 a incorporação de novos conhecimentos na área nutricional e o aprofundamento na bioenergética, permitiram uma significante melhora na performance através da chamada "suplementação nutricional avançada".
Podemos dizer que, hoje, todos os atletas de ponta estão sob protocolo contínuo de suplementação avançada e o ganho nos resultados é indiscutível.
Quando se fala em FORÇA, pensamos diretamente na envergadura da massa muscular. Entretanto, o "feed" desse músculo, a disponibilidade de mioglobina, oxigênio e fontes bioenergéticas (do glicogênio aos nitrocompostos) são fatores determinantes na eficiência da força muscular.

MIOGLOBINA: sendo uma forma especial de hemoglobina, exclusiva do músculo, essa proteína distribuidora de oxigênio é muito importante. A demanda de energia no esforço é muito rápida e acelera, naturalmente, a queima de glicogênio e açúcar, levando a um aumento instantâneo de PIRUVATO, que ao ser transformado em ACETIL CoA, pode acessar ao ciclo de Krebs e à Cadeia Respiratória Mitocondrial. Nesse processo o corpo produz de 34 a 38 moléculas de ATP, o combustível número 1 para o músculo. Acontece que, o aumento muito rápido na oferta de PIRUVATO no músculo pode levar ao seu acúmulo e, como consequência, na insuficiência de oxigenação, teremos a acidose láctica. Esse ÁCIDO LÁCTICO que por vezes se acumula, especialmente no esforço intenso, é um problema: a acidose pode lesionar as fibras musculares, causar inflamação e dor intensa. A história de "NO PAIN, NO GAIN" é relativa: dor que se mantém após 24 horas do treinamento é consequência de lesão muscular importante. É fato que a cicatrização dessas lesões "aumenta" o músculo, mas convém lembra que se isso acontece com muita intensidade podemos ter problemas futuros para o atleta, como fibrose muscular. Assim, evitar a acidose e lesões é um padrão para manter a saúde do atleta, especialmente após o término da carreira competitiva. Um suplemento que auxilia a evitar o acúmulo de ácido láctico é a associação de BISSULFETO DE TIAMINA + ÁCIDO R-ALFA LIPÓICO.

O DIFERENCIAL DA MIOGLOBINA: como a mioglobina capta o oxigênio liberado pela hemoglobina, sua afinidade pelo O2 tem que ser maior. Neste aspecto, um diferencial marcante entre ambas, MIOGLOBINA e HEMOGLOBINA, é a proximidade do aminoácido L-HISTIDINA, que faz com que o o oxigênio forme uma ligação muito mais estável com a mioglobina. Veja na figura:


Repare na proximidade da L-Histidine da molécula de O2 na mioglobina, gerando maior afinidade na ligação do oxigênio. Um dos fatores genéticos pré-determinantes de elevada qualificação atlética é o nível de mioglobina basal do indivíduo - quanto maior mais capacitado  será para o esforço.
A suplementação com o aminoácido L-Histidine não tem sido muito cogitada no atletismo, mas pode ser um fator auxiliar na manutenção de níveis adequados de mioglobina - deve ser acompanhada por profissional de saúde qualificado, porque as dosagens são importantes (excesso de L-Histidine pode aumentar os níveis de histamina no sangue). Importante: sempre que suplementar com L-Histidine associar com beta-Alanina, pois propicia a formação de L-Carnosina e evita o acúmulo de L-Histidine livre.

MIOSTATINA: esse hormônio tem por finalidade controlar a expansão do músculo, regulando o crescimento da massa muscular. Por isso, a busca por inibidores da miostatina tem sido um objetivo da pesquisa sobre os suplementos avançados para os atletas. Entre os poucos disponíveis, podemos citar o peptídeo conhecido como FOLLIDRONE. Através dessa composição de fitoantioxidantes, é relatado o estímulo ao peptídeo FOLLISTATIN - um antagonista natural da miostatina. Os principais componentes do FOLLIDRONE são a epigalocatequina e floroglucinol (H. lupulus).

O COMBUSTÍVEL (ATP): muito relevante na eficiência do esforço é a disponibilidade de ATP no músculo. Conforme os estudos pioneiros do grande cientista brasileiro Prof. Paulo Lacaz, o organismo recicla cerca de 85% do ATP no gasto basal. Isso mostra que nosso corpo é uma eficiente máquina de ENERGIA LIMPA. Apenas 15% do ATP usado durante um dia de vida é proveniente de uma nova síntese, ou, como ficou convencionado nas apresentações de Prof. Lacaz aos cientistas americanos, a síntese "de novo" (único verbete em português na linguagem técnica internacional).
Pois bem, no esforço essas proporções mudam um pouco. Mas, diante desta grandeza da reciclagem do ATP no corpo, é preciso que estudemos a fundo todos os mecanismos dessa reciclagem, para, assim, auxiliarmos o organismo a enfrentar o esforço. Há dois sistemas simultâneos de recuperação do ATP: um dependente de oxigênio e outro não.

RECUPERAÇÃO do ATP (via anaeróbia): quantitativamente é o mais significativo, utilizando doadores de fosfato (Pi) para repor nos produtos degradados do ATP (ADP e AMP). Dos doadores de Pi, a CREATINA é o mais eficiente e estudado até hoje. Há inúmeras pesquisas comprovando a segurança e eficiência da suplementação com creatina nos atletas de todas as modalidades, especialmente modalidades de "endurance" - incluindo UFC.


RECUPERAÇÃO do ATP (via aeróbica): este sistema funciona dentro das mitocôndrias, sendo dependente do sistema NADH / NAD+ (vitamina B3), porém tem a limitação do oxigênio, cujo consumo aumenta muito no esforço e pode prejudicar sua eficiência.
A modulação desses metabólitos e sua suplementação podem aumentar sobremaneira a capacidade de resistência ao esforço, sendo muito adequado às modalidades de resistência, triatlon, fundistas, nadadores, futebol, UFC.


A SÍNTESE "DE NOVO" do ATP: no caso do esforço, as necessidades de novas moléculas do ATP são imprescindíveis. Os principais formadores de ATP são D-RIBOSE, ADENINA (glicina + aspartato + THF). Muitos estudos provam como a suplementação com D-RIBOSE aumenta os níveis de ATP, diminuindo os indicadores de destruição do ATP (xantina, hipoxantina, ácido úrico).

PRÓXIMO ARTIGO: preservação do músculo, anticatabólitos e inibidores da proteólise muscular.


quarta-feira, 20 de junho de 2018

ÔMEGA 3 e as PUBLICAÇÕES SOBRE CÂNCER DE PRÓSTATA.

Em 2011 uma dupla de pesquisadores (Theodore Brasky, um conceituado pesquisador de Ohio University e Alan Kristal, da Washington University, ) publicou um artigo (Am J Epidem, 2011, 173[12] sobre a avaliação dos dados obtidos com participantes do PROSTATE CANCER PREVENTION TRIAL (1994-2003). Curiosamente, para eles próprios, os resultados dos níveis sanguíneos de ácido docosahexanóico (DHA) foram relacionados diretamente com o aumento da incidência desse tipo de câncer.
O DHA é o mais importante ômega 3 no sistema nervoso, incluindo membrana dos neurônios e filamentos nervosos. Além disso, os níveis de DHA no cérebro humano são elevadíssimos, quando comparados a outros órgãos e demais primatas.
Por isso, a publicação causou surpresa aos autores do estudo. Devido a algumas limitações no estudo de Bradsky e Kristal, a repercussão foi pequena no âmbito científico. A própria mídia leiga absteve-se de enfatizar os achados do estudo. Vamos analisar o que se sucedeu desde então - antes uma breve revisão sobre a importância dos ácidos graxos poli-insaturados (ômega 6 / ômega 3).

O BALANÇO ÔMEGA 6 / ÔMEGA 3: o Professor Helion Póvoa foi um dos primeiros cientistas a chamar a atenção para o aspecto inflamatório de uma dieta com excesso de ômega 6, em relação ao ômega 3. Isto ocorre porque o metabolismo de ômega 6 leva ao aumento do catabolismo de ácido araquidônico, cujos subprodutos são fortemente inflamatórios e aterogênicos.
É de pleno conhecimento da biologia e da medicina que a ação das enzimas LIPOXIGENASE e CICLOXIGENASE (1,2) leva à formação da série 2 das prostaglandinas - a série "inflamatória". Tanto assim que a maioria dos antinflamatórios modernos não esteroidais (NSAIDS) (diclofenaco, ibuprofeno, cetoprofeno e tantos mais) são projetados para a inibição de COX 1,2.

Vejam na figura abaixo o desdobramento dos ômega 6 e suas vias inflamatórias:


A série 2 (em vermelho) é responsável pelos efeitos inflamatórios e vasoconstrição (TAX2, LTB4 e PGF2alfa).


É evidente que a oferta de ômega 6 é bem maior do que a de ômega 3 em nossa dieta, entretanto, na atualidade essa diferença atinge proporções preocupantes. Uma dieta desequilibrada (>15 ômega 6 / ômega 3), certamente é um fator para doenças inflamatórias, disfunção endotelial (aterogênese) e também para maior incidência de câncer. Não é incomum, hoje em dia, encontrarmos um consumo na dieta de 50 partes de ômega 6 para 1 parte de ômega 3! Vejam no gráfico abaixo:


Por longo tempo temos acompanhado as publicações sobre os efeitos benéficos dos ácidos graxos da família ômega 3 sobre o sistema cardiovascular. Artigos recentes continuam a surgir ratificando os benefícios (todos de 2018).
https://www.ncbi.nlm.nih.gov/pubmed/29904777
https://www.ncbi.nlm.nih.gov/pubmed/29914111
https://www.ncbi.nlm.nih.gov/pubmed/29903169
https://reader.elsevier.com/reader/sd/66EE19C37FD0FC42005FB60357B68CFA0302976CE3C86B74D6965D41134BF508F9A3ACA45853A78A485D26EA28D8B377

Também sobre depressão e ansiedade:
https://www.ncbi.nlm.nih.gov/pubmed/29882923

Cognição e memória:
https://www.ncbi.nlm.nih.gov/pubmed/29865075

Esteatose hepática:
https://www.ncbi.nlm.nih.gov/pubmed/29864682

Enfim, um grande número de publicações por décadas atestam os efeitos benéficos quando diminuímos a defasagem de omega 3 em relação a omega 6 na dieta moderna.

VOLTANDO À PUBLICAÇÃO DE 2011: a aplicação dos métodos estatísticos para avaliação de parâmetros não alvo em estudos originais já foi adotada anteriormente, nem sempre com sucesso, dado as características peculiares da seleção dos participantes. Nesse caso em particular, o DHA é especialmente sensível ao conteúdo oxidante dos CYP e retículo endotelial, com a formação de derivados peroxidados lipídicos. Um dos aspectos que chama atenção no estudo de 2011 é o percentual de pacientes fumantes e alcoolistas (57,5% e 68,5%) selecionados para o estudo sobre
câncer de próstata, respectivamente - ainda que com o consumo médio de até 30g de álcool/dia. Estes são fatores que subentendem uma atividade exacerbada dos CYP (citrocromos) e retículo endotelial (MFOS - multi function oxidase system), aumentando o risco de peroxidação dos ácidos graxos poli-insaturados. Além disso, entre os pacientes selecionados com câncer de próstata, 51,1% estavam com BMI entre 25 e 29,9. Todos esses fatores podem ser interferentes no status do DHA ou EPA, ou seja, no índice de oxidação desses lipídios.
É sabido que produtos da oxidação não enzimática dos ácidos graxos poli-insaturados (5HPETE, isoprostanos, isofuranos e neuroprostanos) estão fortemente relacionados com câncer. Por isso teria sido importante a avaliação não somente do conteúdo de DHA, mas de que forma se apresentaria o ácido graxo. Os próprios autores, na página 1434 (Am J Epidem, 2011, 173[12]) consideram "Não houve associações de câncer de próstata com qualquer medida de ácido graxo. DHA foi associado positivamente, mas não linearmente, com o risco de câncer de próstata de elevado grau".
Quando pensamos no aporte gorduroso da dieta ou de suplementos, como os ômega 3, devemos sempre pensar no status de antioxidantes do indivíduo. A combinação de excesso de ácidos graxos poli-insaturados, sejam ômega 6 ou ômega 3, com excesso de radicais livres nunca deu bons resultados, como enfatizava nosso querido Prof. Helion Póvoa!

O QUE SE SUCEDEU APÓS 2011: em 2013, Brasky e Kristal publicaram outro artigo (J Natl Cancer Inst, 2013, 105) onde afirmam "a inflamação exerce um papel na etiologia de muitos tipos de câncer".  O papel antinflamatório dos ômega 3 está muito documentado na literatura médica - em outra publicação dos autores (Cancer Prev Res, 2015 July, 8[7]) este fato é plenamente reconhecido: "ácidos graxos n-3 foram inversamente, ácidos graxos n-6 foram positivamente e ácidos graxos trans, não foram associados com inflamação intra-prostática nos pacientes".
Ainda sobre o estudo de 2013, Brasky e Kristal, relatam algo ainda mais surpreendente: gordura trans foi inversamente relacionada com câncer de próstata!? É com grande perplexidade que analisamos tal relato, visto já haver posição internacional oficial sobre os efeitos negativos de ácidos graxos trans sobre a saúde humana.

Em 2014 (J National Cancer Institute, 106(9), Brasky Kristal participam de grupo internacional de cientistas que revisaram os dados anteriormente publicados, chegando à conclusão:
"NÃO HOUVE FORTE EVIDENCIA DE QUE OS ÁCIDOS GRAXOS CIRCULANTES SEJAM IMPORTANTES PREDITORES DO RISCO DE CÂNCER DE PRÓSTATA. NÃO ESTÁ CLARO SE AS MODESTAS ASSOCIAÇÕES DE ÁCIDO ESTEÁRICO, EICOSAPENTANÓICO (EPA) e DOCOSAHEXANÓICO SÃO FATORES CAUSAIS".

O QUE PODEMOS EXTRAIR DISSO TUDO:

  1. O estresse oxidativo é um fator de risco importante para a peroxidação lipídica, incluindo ácidos graxos saturados, mono insaturados e poli-insaturados. O excesso de gordura na dieta, ou suplementação em cápsulas, deve ser objeto de cuidado. 
  2. Os subprodutos da peroxidação lipídica são reconhecidamente perigosos, tóxicos e cancerígenos (5HPETES, ISOPROSTANOS, ISOFURANOS, NEUROPROSTANOS).
  3. O balanço ômega 6 / ômega 3 é muito importante para um perfil menos inflamatório da dieta. Relações acima de 15:1 são perigosas, atingindo o ápice na chamada "western diet", onde as populações apresentam elevadíssimo índice de câncer e doença cardiovascular obstrutiva.
  4. Ao contrário, o que se observa nas populações com melhor resultado de ômega 3 neste balanço (japoneses, inuits e esquimós)  é menor incidência de ambos, câncer e CVD.
  5. Vejam o gráfico abaixo:


6. De qualquer forma os índices de gordura (insaturados, ômega 6 e ômega 3) devem ser controlados na ingesta total, evitando-se o excesso.
7. A escolha do suplemento de ÔMEGA 3 deve ser cuidadosa, optando-se pelo produto destilado (molecular) e não o filtrado simples (a quente). Neste último podem ser detectados elevados níveis de subprodutos oxidados pelo calor.
8. Dado os níveis elevados de ômega 6 na dieta, é aconselhável a utilização de cápsulas de ômega 3 destilado molecularmente, em doses consideradas seguras, entre 1 a 3g/dia.


Em nosso CURSO DE ESPECIALIZAÇÃO EM SAÚDE ORTOMOLECULAR, estaremos abordando com mais profundidade este e outros temas ligados à homeostase redox e doenças relacionadas. Até o próximo módulo (CARDIOVASCULAR) em 28 de julho de 2018.

Abcs aos alunos e a todos os amigos.

Celio Mendes.