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sexta-feira, 11 de fevereiro de 2011

VÍTIMAS DO KATRINA APRESENTAM DOENÇAS PELO ESTRESSE.


Segundo o AIS (American Institute of Stress) “O estresse é difícil de ser definido porque é uma sensação bastante subjetiva, associada com uma variedade de sintomas que diferem de um para outro indivíduo”. Além disso, certo nível de estresse (eustresse) pode ser produtivo e contribuir para lampejos da performance intelectual ou física, em algum momento.
Entretanto, o estresse crônico (distresse) decorrente de pressão social, profissional ou emocional, aspectos normalmente encontrados na vida moderna, está associado a doenças, indubitavelmente. Recentemente, cientistas acompanhando as vítimas do furacão KATRINA, em Nova Orleans, descobriram como estas pessoas ficaram mais doentes  (7) comparadas aos indivíduos não estressados. 
Os principais grupos de doenças comprovadamente associadas com distresse são:
o      Doenças Cardiovasculares (7)
o      Distúrbios Gastrintestinais (16)
o      Diminuição da Imunidade (9)
Hans Selye foi o médico austríaco que elaborou os primeiros conceitos sobre estresse, ainda em 1937. Ele foi o primeiro, também, a relacionar doenças orgânicas com o estado emocional do paciente, criando o conceito de somatização.
Hoje, muitos anos após sua descrição sobre a Síndrome de Adaptação, ela continua perfeitamente aplicável cientificamente. A exaustão adrenal, de um aumento súbito dos níveis de cortisol seguido de extensa diminuição (6), é produto de um distresse prolongado com pensamentos obsessivos e ciclo vicioso. Esse estado que leva, também, à diminuição na oferta de ATP ao cérebro e a depleção de importantes nutrientes como as reservas de vitamina B12, do peptídeo L-Carnosina e do antioxidante intracelular L-Glutathione. Caem também os substratos mitocondriais para os neurônios – coenzima Q-10 e ribosil fosfato – e minerais importantes para a síntese protéica e metabolismo da glicose no cérebro, como o zinco, cromo e vanádio. O resultado final é a incapacitação para as tarefas diárias, diminuição da eficiência, podendo chegar ao abandono temporário (ou definitivo!) de sua rotina profissional e/ou familiar.
Nesta situação nutrientes e antioxidantes são consumidos em larga escala: vitaminas do complexo B envolvidas com a glicólise e ciclo de Krebs, assim como os minerais magnésio e cálcio. Os níveis de vitamina C livre diminuem rapidamente, assim os oligoelementos zinco, manganês e selênio.
Entre os aminoácidos, os mais consumidos durante o estresse estão BCAA (leucina, isoleucina e valina), a principal fonte de energia para o músculo esquelético; e a L-Glutamina, combustível vital para os fagócitos. Outros aminoácidos que são intensamente consumidos durante o estresse são L-Arginina e L-Lisina.
IMUNIDADE: fica bastante prejudicada sob distresse, pois além da queda da L-Glutamina plasmática, zinco e vitaminas importantes para o sistema imune (C e A) também diminuem nas células. Logo após Solomon (8) ter publicado seu artigo especulando sobre a influência do estresse na imunidade, estudos com animais mostraram que o estresse induzido diminuiu a contagem das células brancas e seus parâmetros de viabilidade como motilidade, proliferação e diferenciação. Os animais submetidos ao estresse induzido, quando comparados ao grupo controle, apresentaram incontestável predisposição para infecções. Ader (9) com sua pesquisa, veio, então, confirmar definitivamente a influência do estresse psicoemocional sobre o sistema imunológico, reformulando o conceito errôneo de que os sistemas nervoso e imunológico não interagiam.
SISTEMA CARDIOVASCULAR: os danos ocasionados ao sistema cardiovascular pelo distresse têm sido observados há muito pelos médicos. O foco principal dos efeitos nocivos sempre foi no metabolismo das catecolaminas e na hipertensão. Estudos mais recentes, porém, têm abordado outro aspecto, utilizando modelos humanos como o de Tucker (7), que acompanhou os sobreviventes do furacão Katrina em New Orleans, e a relocação de desabrigados em Oklahoma, EUA. Neste estudo os autores verificaram que os indivíduos cujas vidas foram gravemente afetadas pelo furacão apresentaram níveis muito elevados de IL-6. Do grupo das interleucinas (IL), a IL-6 é uma das mais potentes pró-inflamatórias, também relacionada com desenvolvimento de disfunção endotelial e doença aterogênica. Portanto, além dos fenômenos decorrentes das catecolaminas nos indivíduos estressados, outros parâmetros que contribuem para as doenças cardiovasculares estão envolvidos no estresse, especialmente os marcadores inflamatórios.
GASTRINTESTINAL: os efeitos do estresse sobre o trato gastrintestinal podem ser observados de imediato em muitos pacientes submetidos a estresse agudo. Alterações fisiológicas na mucosa intestinal podem provocar incontinência fecal. Com o prolongamento do estresse (distresse) efeitos sobre a mucosa gástrica são observados: gastrite e úlcera. Agostini (16) ratifica em sua pesquisa que a amígdala cerebral exerce papel importante neste fenômeno de disfunção gastrintestinal em resposta ao estresse psicoemocional agudo.
Lyte (17) argumenta que as catecolaminas liberadas no estresse agudo – especialmente noradrenalina – alteram a fisiologia da mucosa intestinal provocando respostas de defesa contra bactérias simbióticas em nosso intestino. O resultado é o aumento da vulnerabilidade a infecções e alterações na homeostase da mucosa intestinal, com inflamação.
SONO: normalmente muito prejudicado nos pacientes portadores de estresse não controlados. Serafina Corsello, especialista estresse, afirmava que as dificuldades do sono, quais sejam sono interrompido, sono insuficiente, são fatores predisponentes ao estresse. Assim, nos deparamos com um circuito retroalimentado: estresse prejudica o sono; e o sono insuficiente aumenta a predisposição ao estresse. Glozier (17) avaliou quase 3.000 pessoas, concluindo que os portadores de estresse apresentaram significativo encurtamento do sono.
Referências:
  1. Mecanismos de Prevenção do Estresse - Denizard Datti, Ed. Rosa dos Tempos.
  2. Autocontrole: a Nova Maneira de Controlar o Estresse - Ana Maria Rossi, PhD - Ed. Rosa dos Tempos.
  3. Como Tornar-se um Bom Estressado: Eric Albert & Gilberto Ururahy - Ed. Salamandra.
  4. The Healing Nutrients Within - Carl Pfeiffer & Eric Braverman - Keats Publishing - USA.
  5. Salivary measures of estresse and immunity in police officers engaged in simulated critical incident scenarios. Groer M & cols – J Occup Environ Med, 2010, 52(6):595-602.
  6. Use of saliva for assessment of estresse and its effect on the immune system prior to gross anatomy practical examinations. Lester SR & cols – Anat Sci Educ, 2010, 3(4):160-167.
  7. Emotional and biological estresse measures in Katrina survivors relocated to Oklahoma. Tucker P & cols – Am J Disaster Med, 2010, 5(2):113-125.
  8. Emotions, immunity and disease: A speculative theoretical integration. Solomon GF & Moos RH – Arch Gen Psychiatry, 1964, 11:657-674.
  9. Behaviourally conditioned immunosuppression. Ader R & Cohen N – Psychosom Med 1975, 37:333-340.
  10. Effects of acute psychological estresse on adhesion molecules, interleukins and sex hormones: implications for coronary heart disease. Heinz A & cols – Psychopharmacology, 2003; 165:111-117.
  11. Loneliness and neuroendocrine, cardiovascular, and infl ammatory estresse responses in  middleaged men and women. Steptoe A & cols – Psychoneuroendocrinology, 2004, 29:593-611.
  12. Effects of mental and physical estresse on platelet function in patients with stable angina pectoris and healthy controls. Wallen NH & cols –  Eur Heart J 1997, 18:807-815.
  13. Acute psychological estresse: effects on chemotaxis and cellular adhesion molecule expression. Redwine L & cols –  Psychosom Med, 2003, 65:598-603.
  14. The effects of acute psychological estresse on lymphocyte adhesion molecule expression and density in cardiac versus vascular reactors. Farag NH & cols – Brain Behav Immun, 2002, 16:411-420.
  15. Does Estresse Influence Immunity and Cause Coronary Artery Disease? Ho Roger CM & cols – Ann Acad Med Singapore, 2010, 39:191-196.
  16. Brain functional changes in patients with ulcerative colitis: A functional magnetic resonance imaging study on emotional processing. Agostini A & cols – Inflamm Bowel Disease, 2010 Nov 15.
  17. Short sleep duration in prevalent and persistent psychological distress in young adults: the DRIVE study. Glozier N & cols – Sleep, 2010, 33(9):1139-1145.
Abçs aos amigos e ex-alunos.
Celio Mendes

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