Nem tanto... A proliferação celular cancerígena mostra impressionante utilização do sistema hospedeiro (podemos chamar assim?) para se reproduzir, captando mais energia do que as células saudáveis, desviando a rota do açúcar e ATP para seu crescimento, sugando os complexos vitamínicos mais importantes para a replicação de sua fita alterada de DNA, como cobalamina, folato e complexo B. Além disso retém do plasma grandes quantidades de L-Glutamina, favorecendo a expansão do tumor, por ser esse um aminoácido bioenergético. Simultaneamente, falta L-Glutamina para a defesa celular, já que os fagócitos, incluindo linfócitos e NK cells, demandam grande quantidade desse aminoácido, já que não dispõem da enzima glutamina sintetase.
Quando leio artigos sobre como alguns nutrientes suplementados podem ser perigosos para aumentar o risco do câncer, percebo que ainda continuamos em dúvida sobre quem veio primeiro, o ovo ou a galinha...
Falta de L-Glutamina certamente diminui a capacidade de nos defendermos contra células cancerígenas, posto que as NK cells têm esse papel marcante. Caçar e destruir células cancerígenas.
Mas se ofertamos quantidades maiores de L-Glutamina favorecemos o desenvolvimento de um tumor silencioso... Seria mesmo essa a realidade?
Difícil de chegarmos a uma conclusão definitivo, ao menos por enquanto.
A sofisticação do câncer faz com que os tumores estimulem a produção de proteases ou proteinases, como hialuronidase e metaloproteinases, para dissolver tecido conjuntivo e permitir a invasão de órgãos adjacentes. È mesmo um prodígio esse tal sistema cancerígeno.
Recentemente foram detectados níveis elevados de um peptídeo neurogênico da maior importância para nós, a NEUROMEDINA "U".
Credita-se a esse peptídeo funções de grande importância no SNC, no músculo, na regulação da PA, no HPA axis (eixo hipotalâmico-pituitária-adrenal). Nesse aspecto (HPA axis), neuromedin atua em conjunto na síndrome de adaptação ao estresse (salve grande Hans Sellye), preparando o organismo para períodos árduos de fuga, luta ou resiliência. Neuromedin U regula a liberação de corticotropina.
Curiosamente a injeção de Neuromedin U em animais provocou marcante redução na busca por alimento, um tanto quanto contraditório com a liberação de cortisol via corticotropina. Mas, são muitos os mistérios que ainda envolvem esse abrangente neuropeptídeo cujas concentrações no organismo são consideráveis em vários sistemas, especialmente o gastrintestinal e cerebral. No hipotálamo é marcante sua presença.
Essa ação de NEUROMEDIN U na redução do apetite tem atraído a atenção de pesquisa na área farmacêutica pela busca de sucedâneos que possam ter valor terapêutico.
Tenho refletido sobre isso e me pergunto se, quando está elevado no câncer, não seria um dos responsáveis pela perda de apetite tão característica de muitos pacientes com câncer. Já foi verificado, entretanto, que Neuromedin U não interfere significativamente com as secreções gástricas. Então, o mais provável é que atue mesmo em nível hipotalâmico nessa redução drástica do apetite.
Mais uma vez aqui também se aplica a heterogeneidade de ações do câncer: nem todos os tipos de câncer apresentam super expressão de Neuromedin U e dos seus genes controladores. Nos estudos com câncer oral, por exemplo, o mRNA para Neuromedin U está diminuído. Porém, no acompanhamento de pacientes com câncer escamoso de esôfago ela aparece em super expressão.
Neuromedin U é abundante no líquor céfalo-raquidiano e demonstra ter papel crucial na tradução do estímulo motor.
CAPÍTULA À PARTE: um dos papéis que estão interessando demais os pesquisadores é a interação desse peptídeo ainda tão misterioso na regulação do SISTEMA IMUNE. Por exemplo, foi demonstrado sua expressão em variadas células do sistema de defesa: células dendríticas, células T, NK cells (olha elas aí, defesa anticâncer), monócitos e também células B.
Pelo que tenho lido, essa detecção de níveis elevados de NEUROMEDIN U em pacientes com câncer parece ser, mais uma vez, uma resposta do organismo na tentativa de aumentar sua competência imunológica, especialmente as NK cells anticâncer.
Uma dica: o nutriente mais importante na estruturação da cadeia peptídica é um aminoácido ao qual não temos dada muito importância, a ASPARAGINA. E ela que sela a cadeia peptídica e cria a estrutura tridimensional responsável pela atividade neuroendócrina de Neuromedin U.
Se vocês quiserem ler mais um pouco sobre esse fascinante tema recomendo o artigo:
Vejam como a estrutura de Neuromedin U tem a asparagina em posição estratégica:
A suplementação com asparagina e carnosina tem sido recomendada para aumentar a defesa anticancerígena:
L-Carnosina ........ 400mg
Comprimidos sublinguais
(Não é bem aproveitado pela via oral/gástrica --> é destruído pelo suco gástrico)
L-Asparagina ...... 300mg
Vamos continuar estudando mais sobre Neuromedin, pois sua importância já está mais que comprovada para a nossa biologia e fisiologia.
Só nesse ano já são dezenas de publicações importantes a respeito:
Em breve estaremos adicionando ao blog mais informações sobre os novos indicadores e marcadores de câncer.
Saudações,
Celio Mendes.
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