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sábado, 19 de setembro de 2020

O SISTEMA IMUNE FRENTE AO NOVO CORONAVÍRUS SarsCov2 - Part 1

Temos com o advento do NOVOCORONAVIRUS (SarsCov2) a oportunidade única de rever os conhecimentos sobre o nosso sistema imunológico, uma vez que fica cada vez mais evidente uma predisposição de parte significativa da população para uma evolução ruim da infecção.

Isto nos mostra que há lacunas a preencher sobre o funcionamento conjunto das células detectoras de antígenos e as efetoras (fagocíticas), assim como as apresentadoras de antígenos e as produtoras de anticorpos.

Nosso sistema imune é tal qual um exército com vários soldados especializados que funcionam em íntima comunicação, regida por uma ampla gama de mensageiros químicos: as citoquinas, os peptídeos imunoativos e também hormônios, vitaminas e minerais.

Por volta de 1820 as primeira observações sobre os leucócitos foram relatadas por Donnè, Gulliver e Addison, independentemente. Por volta de 1880 Paul Erlich desenvolve uma nova técnica de coloração que permite a identificação dos diversos leucócitos, começando pelos granulócitos (neutrófilos, basófilos e eosinófilos) Em 1883 Metchinikoff descobre o processo de FAGOCITOSE, no qual células do sistema imune absorvem e destroem bactérias e vírus.

Já no século XX os cientistas descobrem que nossos "soldados" não funcionam aleatoriamente, mas sim regidos por um comando central, os LINFÓCITOS, que se utilizam de mensageiros químicos (citoquinas) para coordenar a ação contra os agentes invasores.

Parece esse o ponto chave da questão que nos obriga a repensar a imunologia, diante da pandemia COVID-19. Haveria alguma lacuna neste complexo sistema de comunicações entre nossas células da defesa que implicaria nessa predisposição de certo grupo de pessoas para ter um quadro grave da infecção, enquanto mais da metade da população parece passar incólume por ela?

Onde estaria essa lacuna? Nos comandos emitidos pelos linfócitos CD4 para os CD8, estes os verdadeiros "caçadores" e destruidores de vírus e células infectadas por vírus? Ou será que nessas pessoas predisponentes a própria distribuição celular, especialmente CD8, estaria prejudicada?

Um dado importante que foi divulgado nesta semana já nos dá uma pequena ideia de que possa haver realmente alguma diminuição de CD8 nessas pessoas predisponentes. Para surpresa geral dos imunologistas, pela primeira vez cientistas demonstram haver DIFERENÇA na RESPOSTA IMUNE entre HOMENS e MULHERES - Carolyn Mazure & Akiko Ywasaki da Universidade de Yale nos EUA fizeram um estudo onde mostram que 60% das mortes ocorrem em pacientes masculinos. No seu estudo eles sugerem uma pequena diferença na atividade específica dos linfócitos "T" a favor das mulheres - desses linfócitos surgem os subtipos CD8. Acho que isso precisa ser muito investigado daqui para a frente, pois é uma proposição inédita na imunologia.

Por outro lado, deixando um pouco de lado a hipótese de falha nos mensageiros químicos que coordenam as células da defesa, já se propôs que a população de linfócitos "T" na rede capilar das vias respiratórias, começando pela mucosa nasal, seguindo pela oro-faríngea e descendo pelos brônquios e bronquíolos seria fundamental para como vai evoluir a doença no indivíduo contaminado. Havendo abundância de células "T" e os sinalizadores para sua transformação em CD8 (também CD4), a evolução da doença seria muito mais branda, porque não permitiria a fixação do SarsCov2 na mucosa das vias respiratórias mais internas (brônquios, bronquíolos e alvéolos pulmonares). Temos o problema dos receptores da enzima ECA (enzima conversora de angiotensinogênio), muito abundante tanto no endotélio vascular, como no endotélio dos tubos e superfícies das vias respiratórias (também nos vasos linfáticos). O SarsCov2 utiliza esses receptores para fincar suas espículas e colonizar as células. Se o vírus foi manipulado ou não, eu não sei. Mas isso é um comportamento estranho - e muito nocivo.

É exatamente a chegada de grandes quantidades de partículas virais nos bronquíolos e mucosa pulmonar na COVID-19 que provoca a terrível síndrome respiratória aguda, através de uma reação inflamatória grave. Essa reação violenta já é decorrente da ação de outras células menos específicas, os macrófagos por exemplo, que são potentes destruidores de células invasoras, mas também destroem células de nossos tecidos quando verificam essa situação de invasão exacerbada - eles ficam hiperativados e podem promover sérias lesões teciduais e até necrose.

Então, parece que está ficando cada vez mais claro que uma resposta imunológica tardia na COVID-19 é produtora de quadro inflamatório muito sério, estimulado por o que chamam "tempestade de citoquinas". Sabemos perfeitamente que a busca por vacinas ou medicamentos é o foco principal nesse momento, mas, se não destacarmos um grupo de pesquisadores competentes para investigar profundamente as diferenças que possam haver entre as pessoas mais predisponentes à COVID-19, perderemos uma oportunidade ímpar, que se apresenta em um pandemia com um número de pessoas infectadas que confere alto valor estatístico aos resultados por ventura encontrados. Mãos á obra imunologistas! Vamos fundo no estudo de MCH-II, GcMAF, NAF, INTERLEUCINAS, INTERFERONS e cia ltda nestes doentes! A hora é agora, precisamos descobrir muito mais sobre isso.

OUTRO TEMA IMPORTANTE: o estado nutricional e a resposta imune. muito tem sido falado sobre VITAMINA D e ZINCO. O volume de pesquisas sobre a influência desses dois nutrientes na imunidade é tão grande que chega a ser um desserviço o que alguns cientistas estão fazendo, debruçando em revisões para desacreditar, principalmente a Vit D. Até entendo a preocupação de não se iludir a população com falsos tratamentos, isso realmente seria muito grave. Mas publicar artigos negando a absoluta importância da vitamina D para o sistema imune, isso chega a ser ridículo a esta altura. GcMAF (ativador do macrófago) e NAF (ativador dos neutrófilos), só para citar dois exemplos, são proteínas fundamentais para os sistema imune e são produzidas nas células mediante comando da VITAMINA D - ela controla um número ainda não totalmente calculado de genes, possivelmente mais de 400. Dizer isso não implica em aconselhar as pessoas a tomar vitamina D para curar a COVID-19, óbvio que é muito mais complexo. Mas, a avaliação criteriosa dos níveis de vitamina D no sangue e manutenção de níveis estáveis e eficientes (>30ng/ml) pode muitas vezes necessitar de suplementação externa. PRINCIPALMENTE AGORA QUE TUDO VAI MUDAR.

Acaba de ser publicado um estudo que vai mudar tudo o que vínhamos fazendo em relação ao monitoramento da vitamina D no sangue. Fora desta interminável discussão sobre valores mínimos aceitáveis, variando de 20ng/ml a 40ng/ml (para alguns 60ng/ml), cientistas acabam de mostrar que a forma com que estávamos medindo e relacionando esses valores (VIT D TOTAL) não é a mais adequada! Leen Antonio do Hospital Universitário de Leugen, Bélgica e sua equipe verificaram que a FRAÇÃO LIVRE DA VITAMINA D é que vai, de fato, determinar se estamos bem ou não com esse HORMÔNIO-VITAMINA. Em média apenas cerca de 1% da vitamina D circula livre pelo sangue, o restante fica ligado a proteínas. Os cientistas de Leen Antonio estão propondo avaliar a fração livre e relacioná-la com a fração total para, de fato, indicar a real BIODISPONIBILIDADE da vitamina.

Poderá ocorrer, com esses novos estudos, de uma pessoa estar dentro da faixa mínima aceitável de 20ng/ml (minha opinião mínimo 30ng/ml), mas mesmo dentre dessa faixa considerada aceitável, se estiver com a fração livre diminuída, estará em péssima situação. Como é uma pesquisa muito nova, levará um tempinho para chegar às interpretações de exames nos laboratórios. Mas, vamos convir que pensar em MÍNIMO ACEITÁVEL para indicadores de saúde não é um modo muito inteligente... Já dizia o saudoso é único PROFESSOR HELION PÓVOA FILHO.

AGORA O MAIS SÉRIO NESSA DISCUSSÃO é que muitos estudos antropométricos mostram déficits de vitamina D em percentuais significativos da população, em vários países onde foram feitos os estudos - um estudo recente na Índia mostrou elevados níveis de deficiência. David Meltzer e sua equipe recém publicaram, também, um estudo relacionando o déficit de vitamina D (<20ng/ml) em até 26% das pessoas com COVID-19: conclusão foi de que essas pessoas tiveram quadros mais graves da doença.

FALAR UM POUCO SOBRE O ZINCO: este elemento mineral já foi bem estudado quanto ao seu papel no sistema imune. Há dados que confirmam sua atuação indispensável no processo de DIFERENCIAÇÃO e MATURAÇÃO dos leucócitos, especialmente os LINFÓCITOS - um dos principais sítios onde isso ocorre é a glândula TIMO, mas também pode ocorrer em outros órgãos, na própria medula óssea, por exemplo. Déficit de zinco já foi detectado em frações significativas de populações, especialmente as que tem menos acesso a alimentos marítimos, onde estão as principais fontes desse elemento muito importante para nossa biologia. Relatos de situações de elevada desnutrição de zinco em populações carentes mostram sempre resposta imune fraca e letárgica. O volume de pesquisas sobre o ZINCO e IMUNIDADE é tão grande que não poderíamos nesse momento listar e comentar todos os estudos. Monitoramento do zinco é importante, e quando necessário, suplementar mas escolhendo sempre a forma orgânica quelada com aminoácidos - ZINCO GLICINA.

Temos mais a falar sobre os nutrientes na imunidade, por exemplo as GLUCANAS. Mas vamos deixar para o próximo capítulo. Espero vocês.


terça-feira, 11 de fevereiro de 2020

FINALMENTE DESCOBERTO UM TIPO DE IMUNIDADE ANTICÂNCER TRANSFERÍVEL ENTRE OS PACIENTES (MR1/TCR ativadores de T-Cells especializadas). Elimina todos os tipos testados, incluindo os invasivos como o melanoma.
(Artigo por Celio Mendes / GEHP – Grupo de Estudos Helion Póvoa)
Um novo receptor nas T-Cells foi descoberto, com grande capacidade de identificar e eliminar células cancerígenas – isto torna essas células capazes de eliminar vários tipos de câncer, sem danos às células saudáveis, através de um novo mecanismo imunológico descoberto.
Após a publicação do “Genome-wide CRISPR-Cas9 screening reveals ubiquitous Tcell câncer targeting via the nomomorphic MHC class I related protein MR1”, na importante revista NATURE, em fevereiro desse 2020, a compreensão desse novo mecanismo pode substituir o já empregado método de terapia celular denominado CART-1, onde T-cells são retiradas dos pacientes e reprogramadas de acordo com o tipo de câncer para tratamento.
Nessa nova descoberta, para matar as células cancerosas, as T-Cells utilizam um recém descoberto receptor denominado T Cell Receptor (TCR), que inspeciona as proteínas na superfície da membrana de todas as células. Se há uma proteína anormal – por exemplo uma célula cancerosa ou uma célula infectada por vírus – os TCR podem ser ativados nas T-Cells, estimulando-as a matar as células defeituosas.
Melhorar a eficácia das imunoterapias anticâncer tem sido um desafio. O problema com algumas delas (CART1) é a necessidade de um grupo de moléculas denominadas HISTOCOMPATIBILITY COMPLEX (MHC), que varia muito de pessoa a pessoa. O MHC complex é necessário para a ativação das T-Cells, dependendo das células apresentadoras de antígenos. Na verdade, essas células apresentadoras de antígenos recolhem pedaços de células defeituosas e ligam no MHC complexo, porém devido à grande diversidade deste complexo, o tratamento apresenta algumas dificuldades.
Neste novo estudo, os pesquisadores identificaram um tipo especial de T-Cell com um novo receptor (TCR), que NÃO NECESSITA do complexo MHC para agir, mas sim através de uma única proteína denominada MR1.
O MAIS IMPORTANTE: a sequência da proteína MR1 não varia individualmente, como as proteínas do MHC complex.
MR1 exerce o papel de reconhecimento em metabólitos de bactérias, mas não havia sido, ainda, implicada na imunidade contra o câncer.
Os pesquisadores testaram essas T-Cells com o novo receptor (TCR) contra diversos tipos de cepas de células cancerígenas (pulmão, melanoma, leucemia, mama, próstata e ovário)
As T-Cells ativadas foram capazes de eliminar todas elas, com eficiência superior 80% (em muitos casos 100%), o mesmo não ocorrendo com MHC complexo no CART1, reforçando que essa imunidade anticâncer é realmente devido à proteína MR1 – a nova descoberta.
Entretanto, essas T-Cells especiais, ativadas por MR1 e TCR, não apresentam absolutamente nenhum efeito nocivo sobre células normais.
Os testes com animais (leucemia) injetados com as T-Cells/TCR/MR1 mostraram que, após 18 dias, menos de 10% das células da medula óssea ainda estavam com a anomalia. Esses animais sobreviveram muito mais após o tratamento.
Finalmente, os pesquisadores pegaram T-Cells de um indivíduo com melanoma e modificaram para expressar MR1 em TCR. As células modificadas não só foram capazes de matar as células com melanoma do paciente original, mas também de outros pacientes!
Esta descoberta pode mudar totalmente a abordagem imunoterapêutica no câncer, afirma Andrew Swell (PhD), da Universidade de Cardiff.