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terça-feira, 8 de janeiro de 2019

IRISINA: QUE HORMÔNIO É ESTE?

Quando a gente pensa que todos os hormônios do corpo são conhecidos surge uma nova descoberta, um hormônio produzido no músculo esquelético, a IRISINA (IRISIN).

Sua descoberta em 2012 (Bruce Spiegelman, biólogo) trouxe imensa curiosidade, porque logo de início este hormônio foi vinculado à transformação de gordura branca (WAT) em gordura marrom (BAT). Como sabemos, a gordura branca - menos vascularizada - é um grande obstáculo à perda de peso e está associada à sobre peso e obesidade mórbida.

Porém, surpreendentemente, a IRISINA acaba de ser relacionada à preservação da memória e já está sendo associada ao mal de ALZHEIMER.

Pesquisa recém publicada, com participação de cientistas brasileiros liderados pela neurocientista FERNANDA DE FELICE (em colaboração com FERNANDA TOVAR-MOLL) e do bioquímico SERGIO FERREIRA, ambos professores da UFRJ, evidencia que a IRISINA tem um papel neuroregenerador e de proteção contra os distúrbios neurotóxicos encontrados nos pacientes com mal de Alzheimer (fibrilação Tau e beta-amilóide). Não deixa de ser uma descoberta surpreendente, já que o hormônio vinha sendo pesquisado em outras linhas, especialmente no metabolismo bioenergético. Em suas pesquisas, os cientistas verificaram que a IRISINA pode regenerar tecido nervoso de conexão (sinapses) após destruição pelos fenômenos encontrados no mal de Alzheimer (comprovado em modelos animais):


De Felice, Tovar-Moll e Ferreira provaram em paciente com Alzheimer que os níveis de IRISINA são a metade quando comparados a indivíduos saudáveis, medido no LCR. A seguir, Mychael Lourenço (UFRJ) e Rudimar Frozza (FIOCRUZ) mostraram que animais (ratos e camundongos) que a IRISINA aumenta a capacidade cognitiva. Os pesquisadores relatam que entre os mecanismos de ação do hormônio contra a doenças de Alzheimer está sua capacidade em inibir a aglomeração (fibrilação) do peptídeo beta-amilóide.
A pesquisa é tão recente que ainda houve tempo de publicar em texto, apenas on line. Veja o link:
https://www.nature.com/articles/s41591-018-0275-4

Realmente impressionante esse descoberta, e pensar que há apenas 7 anos atrás sequer conhecíamos essa molécula! Como o interesse nesse hormônio está muito intenso, é natural que outras descobertas estejam sendo realizadas.
E o melhor: medicamentos que em uso na clínica cardiológica podem favorecer a expressão deste hormônio, como veremos mais abaixo no texto.

PRINCIPAIS BENEFÍCIOS DA IRISINA DESCOBERTOS ATÉ O MOMENTO:
  • Reduz a RESISTÊNCIA À INSULINA e diminui hemoblobina glicada.
  • Contribui para PERDA DE PESO, ao favorecer a conversão de gordura branca em gordura marrom e por estimular a liberação da proteína desacopladora UCP-1. Como sabemos, este é o principal mecanismo termogênico, sequestrando elétrons da CRM e forçando ao gasto bioenergético.
  • IRISINA (ao ser estimulada pelo exercício) libera o fator PGC1a, controlador dos receptores ativados dos peroxissomas (PPAR-a e PPAR-g), melhorando o metabolismo lipídico e diminuindo o acúmulo de gordura no tecido adiposo.
  • Recentemente IRISINA foi relacionada com diminuição de perda óssea, através do mecanismo RANK-L (inflamatório no osso).
  • ANTI-ENVELHECIMENTO: pesquisas estão mostrando que IRISINA contribui para manutenção dos TELÔMEROS - como sabemos, a redução dos telômeros é um dos aspectos inerentes ao envelhecimento. Ao proteger os telômeros, irisina tem ação anticancerígena.
  • Protege o sistema vascular, incluindo coração e cérebro através do aumento de óxido nítrico (NO), diminuição da resistência periférica e da PA.
  • ANTINFLAMATÓRIO e ANTIOXIDANTE: efeitos verificados nas pesquisas com modelos animais onde a IRISINA mostrou reduzir interleucinas inflamatórias (IL-6) e citoquinas (TNF-alfa), além de MIP 1-alfa e 1-beta (proteínas inflamatórias liberadas pelos macrófagos).
  • AUMENTA O BDNF: assim estimula a plasticidade neuronal e o aprendizado, o que levou aos estudos e descobertas recentes sobre a aplicação de IRISINA no mal de ALZHEIMER.

O mecanismo pelo qual IRISINA aumenta a GORDURA MARROM:



Aumentando a liberação de UCP-1 (proteína desacopladora 1) na mitocôndria, IRISINA ajuda a retirar elétrons ao final da respiração mitocondrial, forçando, assim, o gasto de energia basal (captada do tecido adiposo de reserva) e liberando calor (termogênese).

COMO AUMENTAR OS NÍVEIS DE IRISINA:
  • EXERCÍCIO: sem dúvida a maneira mais eficiente de aumentar os níveis de IRISINA, entretanto precisa ser exercício aeróbico de intensidade média a alta. O HIIT (high intensity interval training) é plenamente recomendado.
  • MULHERES: a diminuição dos ESTRÓGENOS contribui para a redução de IRISINA no organismo, portanto a TRH nas mulheres na menopausa ou peri-menopausa é encorajada.
  • TEMPERATURA: os extremos estimulam a IRISINA, sauna ou banho em água fria (< 18ºC), porém cuidado com hipotermia.
  • GH: evidenciou aumentar os níveis de IRISINA. Não deve ser usado sem rígido acompanhamento médico, pois é um hormônio proliferativo.
  • VIBRADORES: dispositivos que induzem vibração no corpo também podem aumentar a IRISINA.
  • MEDICAMENTOS e SUPLEMENTOS que AUMENTAM a IRISINA: vejam a seguir.
METFORMIN: conforme estudos publicados, este medicamento aumenta os níveis de IRISINA. Metformin é medicação indicada no diabetes II e tem sido empregada com frequência. Sua ação sobre a UCP-1 é conhecida, aumentando sua oferta na mitocôndria. Veja no link:

COMPLEXO "Q": reunindo a coenzima Q10, ubiquinol e pirroloquinolina quinona (PQQ), este complexo é de suma importância na performance mitocondrial. Além de ser um grande auxílio nas doenças hoje designadas por "DISFUNÇÕES MITOCONDRIAIS", de caráter neurológico (Parkinson, ELA, EM), o complexo "Q" é o conjunto de antioxidantes mais importante ao funcionamento da mitocôndria. A PQQ atua em nível do genoma, estimulando a mitocondriogênese. O papel do UBIQUINOL é fundamental, posto que aumenta a disponibilidade de CoQ10 na mitocôndria. Vejam no link:

Fórmula sugerida de COMPLEXO "Q":
Coenzima Q10 ............... 100mg
Ubiquinol ......................... 25mg
PQQ ................................. 10mg
Tomar uma cápsula pela manhã e outra à tarde.

ESTATINAS: estudos realizados com SINVASTATINA mostraram que esses medicamentos, muito usados para redução de colesterol, podem aumentar os níveis de IRISINA. Vejam os links:

Havendo novas atualizações estaremos publicando aqui. E congratulações aos pesquisadores brasileiros por seu maravilhoso trabalho! É com orgulho que vejo a minha querida UFRJ, onde me formei, produzindo pesquisa de tal nível com seus professores e a colaboração da nossa lendária FIOCRUZ! Parabéns a todos.

Celio Mendes






sexta-feira, 4 de janeiro de 2019

FLOROGLUCINOL: biomolécula neuroprotetora e anticarcinogênica.


Pesquisas recentes têm mostrado a importância do FLOROGLUCINOL (Phloroglucinol) na biologia, especialmente nos mamíferos - incluindo o homem. É uma molécula presente nos vegetais e que apresenta ações interessantes, como por exemplo o efeito inibitório sobra a enzima alfa-GLUCOSIDASE.
Existem dois tipos de glicose, um ativo biologicamente (D-Glicose) e outro inerte (L-Glicose). A forma ativa (D-Glicose) apresenta dois isômeros alfa e beta. A polimerização da alfa-glicose produz os amidos, enquanto com a beta-glicose se produz celulose glucanas (fibras).


Normalmente, os amidos são prontamente utilizáveis como nutrientes, pela facilidade de despolimerização enzimática. Já a celulose e as glucanas não são fontes de energia para metabolismo humano, funcionando como prebióticos (facilitadores da colonização simbiótica na microbiota intestinal) e como agentes de "limpeza" das vilosidades. A menos que a microbiota esteja desregulada, com aumento na população das bactérias metanógenas (M. smithii, B. tethaiotamicron e E. rectale) - nesse caso, como já temos colocado em nosso curso de especialização no GRUPO DE ESTUDOS HELION PÓVOA, esses simbiontes podem sim despolimerizar glucanas e até celulose! Sobre esse tema voltaremos a falar em breve.

Está provado que ingestão adequada de fibras - conforme a American Heart Association, uma ingestão adequada seria entre 20 e 30g/dia, obtida na alimentação. Entretanto, os dados antropométricos dos cidadãos americanos apontam um ingestão de apenas 15g/dia. Assim, poderíamos pensar em melhorar a alimentação e numa possível complementação dietética de fibras na faixa de 1 a 3g/dia.

Entre as principais fibras para complementação estão PECTINA, INULINA, PSYLLIUM, GLUCOMANAN, GALACTOMANAN, GUAR. Uma formulação  contendo 250mg de cada pode ser muito útil, para administração duas vezes ao dia, com bastante água (se der pouca água vai sugar umidade na luz intestinal, provocando constipação). Pelo menos 200ml de água com o sachet.


Mas voltando ao assunto das enzimas GLUCOSIDASES (alfa e beta), a alfa-glucosidase vai agir sobre os amidos, liberando mais rapidamente glicose para uso bioenergético. Por isso medicamentos inibidores da alfa-glucosidase são utilizados (Glucobay, Aglucose) como suporte aos pacientes com diabetes II. Já a beta-glucosidase age sobre glicosídeos e fibras, como celulose e glucanas, também liberando glicose dessas moléculas.

O mecanismo de ação proposto para a AMIGDALINA ou VITAMINA B17 no câncer baseia-se no elevado contingente glicosidases nas células cancerígenas, super capacitadas para sobrevivência e multiplicação (por isso drenam tanta energia do doente). Neste caso da B17, verifica-se forte inibição da BETA-GLUCOSIDASE, capaz de fornecer glicose por vias acessórias para a célula cancerígena (pela hidrólise de glicosídeos disponíveis na alimentação e após o metabolismo hepático - não esqueçamos que a glicuronidação hepática é a principal via de tratamento para os flavonoides, polifenóis e também para xenobióticos.

Então, vejam quanta disponibilidade de açúcar a célula cancerígena tem através desse hiper expressão de BETA-GLUCOSIDASE! Ela pode obter energia de diversas outras fontes além do amido e açúcar livre - é estimado que a célula carcinogênica apresente um nível 3.000 vezes maior de beta-glucosidase em relação às células normais. A ação da beta-glicosidase sobre a amigdalina, um polissacarídeo contendo tiocianato, libera cianeto dentro da célula cancerígena impedindo a utilização do oxigênio na respiração celular - isto leva à morte da célula. Como os níveis de beta-glicosidase nas células normais é muito baixo, isto não é suficiente para liberar o HCN, não sendo, pois, tóxico às células saudáveis. Veja abaixo:


O PAPEL DAS GLUCOSIDASES NO CÂNCER: infelizmente, como tem sido descoberto com o avanço nas pesquisas, as células cancerosas são muito preparadas para a proliferação e sobrevivência, objetivando ocupar todo o organismo "hospedeiro". Elas se equipam com enzimas, proteínas, fatores de crescimento, receptores de membrana, enfim toda uma maquinaria biológica essencial para sua proliferação, utilizando tudo que é "self". Ou seja, não pegam nada de fora, só de nosso organismo. Por isso é tão difícil combater os vários tipos de câncer: normalmente o que mata a célula cancerígena também mata a célula saudável. Por isso essa busca incansável dos pesquisadores para encontrar medicamentos ou moléculas naturais que possam ajudar a diminuir a viabilidade das células "invasoras". Já falei anteriormente sobre um fóssil de ouriço do mar de milhões de anos, onde se encontrou os oncogenes H-ras e C-myc, mostrando que chamamos de câncer pode ter sido o início da vida pluricelular.

Mas, enfim, sobre moléculas naturais que podem diminuir a viabilidade bioenergética do câncer estão os INIBIDORES DE GLUCOSIDASES: alfa-glucosidase (floroglucinol, acarbose) e beta-glucosidase (amigdalina), porque dificultam a captação de glicose tanto das fontes abundantes, como os amidos, como de fontes alternativas, glicosídeos e celulose.

Outras ações benéficas de floroglucinol são pertinentes ao sistema neurológico, atuando como neuroprotetor e nas doenças neurodegenerativas.

ESTUDOS COM FLOROGLUCINOL (clique no link para acessar o artigo):

FLOROGLUCINOL está sendo usado em suplementos com dosagem entre 80mg e 120mg, pode ser obtido na manipulação.
Recomendo a Avena farmacêutica.

ATENÇÃO: estão abertas as inscrições para o "CURSO de ESPECIALIZAÇÃO em SAÚDE ORTOMOLECULAR", no GEHP. Os interessados favor contatar pelo ZAP (21) 95904-3542.