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terça-feira, 9 de novembro de 2010

MAGNÉSIO e FUNÇÃO CIRCULATÓRIA

Há décadas a medicina conhece propriedades terapêuticas do magnésio, especialmente nas áreas muscular e circulatória. A história do magnésio, na forma de gluconato, no controle da eclâmpsia e pré-eclâmpsia está bem documentada, assim como seu uso no tratamento de contraturas musculares e cãibras.

A ligação do magnésio com distúrbios circulatórios (hipertensão) e cardíacos (arritmia) também é conhecida, entretanto, a insuficiência de estudos clínicos mais abrangentes e com populações mais numerosas provoca certa dúvida sobre seu uso na hipertensão. Nas arritmias a administração de magnésio tem sido mais aceita.

O que sabemos, em verdade, é que o magnésio estabiliza a contração do músculo esquelético, ao modular o sistema tropo-miosina-actina:

Troponina + Miosina --> Mg++ (relaxamento)
Actina + Miosina --> Ca++ (contração)

O magnésio induz a fase de relaxamento na fisiologia da contração muscular e, agindo sobre a musculatura do endotélio vascular, promove vasodilatação. Muitos estudos comprovam essa ação, inerente à sua própria fisiologia. Outros têm investigado e relatado sérios déficits de magnésio na dieta e sua inadequada relação com os níveis de cálcio. Rosanoff & Sellig, por exemplo, apontam a relação ideal entre 1:1 ou 1:3/4 considerando cálcio sobre magnésio.

Quero falar agora sobre diversos estudos publicados neste ano, o que vem mostrar que a matéria continua mais do que sempre atual e provocadora do interesse médico (clique nos links em azul para acessar artigos).
  • Estudo recém publicado por Barbagallo & cols  retoma o assunto ratificando que a suplementação oral com magnésio melhora a condição vascular em diabéticos idosos, medindo o fluxo sangüíneo pós-isquêmico (Magnesium Research, Sep 2010, PubMed: 20736142).

  • Reffelmann & cols comprovaram que baixos índices de magnésio no sôro podem ser importantes indicadores de hipertrofia ventricular esquerda (Atherosclerosis, 2010 Sep, PubMed: 20864108). 

  • Outra pesquisa interessante foi realizada pela equipe do Dr. Hashimoto, da Tohoku University no Japão, acompanhando mais de 700 pacientes e concluindo que baixos índices de magnésio foram francamente associados com distúrbios da carótida, incluindo placa e diminuição do fluxo sangüíneo (American Journal Hypertens, 2010 Aug, PubMed: 20706194).

  • Há estudos, entretanto, que não suportam a relação entre magnésio e doença hipertensiva, como o recém publicado por Khan e sua equipe de Harvard University. É bem verdade que Khan utilizou a base de pacientes selecionada por outro estudo (Framingham Heart Study), e teve que aplicar coeficientes de adaptação de proporcionalidade para a época em que os pacientes foram avaliados (American Heart Journal, 2010 Oct, PubMed: 20934566).

  • Por outro lado, estudos cada vez mais importantes no campo da histologia médica e biologia celular à serviço da fisiopatologia das doenças vasculares, como é o caso de Montezano publicado também neste ano, consolidam a teoria de que magnésio é importante na etiologia dessas doenças. Neste caso, comprovando que o mineral modula a diferenciação celular dos sarcócitos no músculo liso, impedindo a transformação das células do endotélio vascular em células osteogênicas. No estudo também ficou demonstrado que o magnésio diminuiu níveis de osteocalcina e BPM-2 (agentes calcificantes), mas aumentou níveis de osteopontina e GLA protein (inibidores da calcificação) (Hypertension, 2010 Sep; PubMed: 20696983).

  • Reconhecidamente o fenômeno de calcificação arterial é um agravante, tanto nos processos trombóticos e isquêmicos, como na manutenção da PA. Por isso, pesquisas como esta acima são da maior importância para reconhecer a homeostase do magnésio como um parâmetro de grande relevância nas doenças cardiovasculares.
É curioso, entretanto, que no meio de tantas publicações e discussões sobre o magnésio no sistema cardiovascular, sempre estejam adotando métodos de avaliação no sôro ou plasma, ambos materiais isentos de células. Ora, sabidamente o magnésio é um elemento de característica marcantemente intracelular, donde as avaliações precisas deveriam partir de conteúdo celular, tecidos ou análise capilar. Aliás, Póvoa tem sido enfático neste aspecto, ressaltando sempre as possibilidades de erro concernentes às análises de minerais intracelulares, magnésio e potássio, por material não celular.
Assim, seria de se esperar que, estudos que utilizassem métodos de detecção do magnésio funcional pudessem dar resultados ainda mais significativos para as relações da hipomagnesemia com doenças cardiovasculares. De qualquer modo, é de se refletir o quantum de magnésio na dieta moderna, unanimemente considerado insatisfatório; e sua proporção com o cálcio, que deveria ser o mais próximo de 1:1 possível.

Sobre a suplementação com magnésio, assim como minerais em geral, as formas queladas com aminoácidos são disparadamente superiores em absorção e biodisponibilidade aos sais moleculares inorgânicos (cloreto de magnésio) e mesmo aos sais orgânicos (gluconato, pindolato).

Oportunamente entraremos em maiores detalhes sobre a absorção de minerais na forma de sais ou de quelatos orgânicos.

PS: artigo recente sobre o tratamento de eclâmpsia severa com magnésio - link.
Abraços aos amigos e ex-alunos.
Celio Mendes.

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