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quarta-feira, 20 de outubro de 2010

RESTRIÇÃO CALÓRICA - 2

Como vínhamos discorrendo, a questão da obesidade mundial preocupa sobremaneira, em todos os continentes. A função metabólica de acúmulo energético nos mamíferos, e nos humanos em especial, foi forjada ao longo de cerca de 4 milhões de anos, preparando-nos para os períodos incertos de escassez alimentar. Assim, um sistema enzimático capaz de mixar várias moléculas de acetil CoA e compactá-las em ácidos graxos, os quais são por sua vez compactados em triglicerídeos, é muito eficiente. Grande parte do excedente de Acetil CoA é assim tratado, especialmente no fígado.
Como as fontes de Acetil CoA são muitas - a começar pelos carbohidratos, proteínas e as próprias gorduras - é de se explicar o estágio da obesidade no mundo, já que existe cada vez mais regularidade na disponibilidade de alimentos e uma redução avassaladora na atividade física, o mecanismo pelo qual se equilibrava no homem o saldo da lipogênese.
Quanto tempo levará para adaptação do genoma às novas condições impostas em apenas 200 anos (invenção do açúcar refinado, máquinas de transporte, telefonia, veículos e controle remoto) e se esse tempo será compatível com a viabilização de uma nova humanidade, não podemos prever, creio eu.
Mas sabemos que grandes avanços estão sendo realizados no campo das pesquisas genéticas e na chamada engenharia genética, o que muda bastante o perfil desse grande problema de saúde.
Porém a engenharia genética só poderá atuar se souber onde atuar. Nesse particular, a bioquímica vem fornecendo valiosas informações sobre o acúmulo de gordura no organismo. Diversos hormônios e peptídeos ativos vêm sendo identificados no processo metabólico de síntese, transporte e localização da gordura - leptina, adiponectina e sirtuínas estão entre os mais importantes. Entre as enzimas, a citrato liase parece ser um ponto crítico na biossíntese das gorduras. Todos esses biocomponentes serão alvo, certamente, de profundas pesquisas para conhecimento de seu comando genético e tais genes, quando desvendados, poderão sofrer alterações genéticas. Mas isso ainda é para o futuro (que seria o futuro hoje, 20, 50 anos, ou menos?!). Enfim, a impulsão do ser humano, curioso e laborioso por natureza, está levando a novas descobertas nesse campo.
Assim é que, debruçado no conhecimento que já se tem desse especial grupo de proteínas "SIRTUÍNAS" (ou sirtuins para pesquisas bibliográficas), pesquisas estão surgindo sobre como estimular sua biossíntese, pois algumas dessas famílias de proteínas podem mudar o perfil de acúmulo de gordura na célula mater, o adipócito. Segundo o que vem sendo pesquisado, certas famílias de sirtuínas (possivelmente 1, 2 ou 3) "informam" aos adipócitos que a pessoa está em jejum há algum tempo, obrigando essas células a liberar o conteúdo de gordura armazenada. Por isso o nome do inglês para essa nova teoria "Mimetics of Caloric Restriction". Restrição calórica pode se aproximar do jejum.
Ao menos uma biomolécula já mostrou que tem a propriedade de interferir na liberação das sirtuínas, através de ação sobre os genes - o RESVERATROL, um fenólico derivado do stilbeno encontrado em muitas frutas (especialmente as vermelhas ou berries = uvas, morangos, framboesas, ameixas, quiçá as pitangas?!). Estou apostando... Uma vez, brincando com o meu querido mestre Helion Póvoa, quando da explosão de pesquisas com o chá verde (Camellia sinensis), disse que possivelmente a variedade do chá sulamericano - o mate (Ilex paraguarensis) poderia conter os polifenólicos, também. Não deu outra, pesquisas iniciais já mostraram que o mate verde (chimarrão) é riquíssimo em polifenólicos, a base ativa do chá verde.
Bom, ilações à parte, vale acompanhar de perto os estudos sobre os MIMÉTICOS da RESTRIÇÃO CALÓRICA, pois seu uso, assim como de outros fitocompostos das frutas, pode trazer auxílio para combater essa pandemia da obesidade. As doses de RESVERATROL que foram citadas em algumas pesquisas, neste objetivo, são bem maiores do que as comumente usadas na prevenção de doenças cardiovasculares (em torno de 12 a 24mg/dia). Atingem 250mg duas vezes ao dia, mas estão distantes da toxicidade, aliás muito pequena, o que impossibilita a obtenção de um importante parâmetro toxicológico - a DL50 oral. Também em médio e longo prazo com animais, a base de todo estudo toxicológico, não foram evidenciados efeitos tóxicos dessa maravilhosa biomolécula, cuja ação anticancerígena está amplamente comprovada em centenas de publicações. Se alguém quiser artigos sobre isso, pode escrever para meu novo E-mail: cmendes99@gmail.com, o qual destinei para atender às consultas deste Blog, que se tornam cada vez mais numerosas. Terei prazer em enviar - espero dar conta!
Abraços a todos os amigos.
Celio Mendes.

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