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sexta-feira, 29 de outubro de 2010

SINTÉTICO ou NATURAL?

Percebo, eventualmente, uma discussão antagônica sobre medicina natural x medicina convencional - tanto na mídia como nos ambientes acadêmicos. Acho pouco produtiva qualquer divisão que se faça nesse campo, onde o somatório vem mostrando há décadas ser bem mais salutar. Até porque, muitas vezes, as duas se confundem e só vamos descobrir muito tempo depois.

Assim é o caso da terapêutica anti-colesterêmica com as famosas "estatinas". Tendo iniciado com mevastatina nos anos 1970, logo a família aumentou com a obtenção de lovastatina da cultura do fungo Pleurotus ostreatus. Hoje, sabemos que são próximo de uma dezena as drogas disponíveis dessa família (sinvastatina, atorvastatina, rosuvastatina, entre outras).
O interessante é que, há alguns anos, foi descoberto que a lovastatina também se encontra naturalmente na levedura do arroz (Monascus purpureus). Ou seja, uma droga tida como sintética durante décadas aparece agora como um produto de ocorrência natural! 
Isto só vem reforçar a interligação que existe entre a natureza e a medicina, onde esta serviu-se milhares de vezes das moléculas naturais para inspirar a confecção de medicamentos.

Como todos sabem, a ação dessa família de produtos, as estatinas, é inibitória sobre a síntese do colesterol hepático, que responde por cerca de 70% do colesterol livre do plasma. Não mais do que 30% do colesterol circulante é proveniente da dieta. Por isso, os estudos sobre detalhes da biossíntese hepática dessa importantíssima biomolécula - o colesterol - foram exaustivamente realizados e todas as etapas da mesma foram elucidadas. Um ponto crítico desse processo é a transformação:

3-Hidroxi 3-Metil-Glutaril CoA  ---------->  Mevalonato
(link 2)

Essa transformação, vital para a seqüência da biossíntese do colesterol, depende da enzima HMG-CoA Reductase, cuja função é bloqueada pelas estatinas. Ao agir nesse ponto do processo, estas substâncias impedem a síntese do lipídio, reduzindo os níveis circulantes.
Ao utilizar o red yeast rice na prescrição, basicamente estamos administrando lovastatina (link 1).

Como alternativa natural de inibidor da HMG-CoA Redutase aparece agora a família dos TOCOTRIENÓIS (link 3) parte integrante da vitamina E, denominada recentemente de COMPLEXO "E". A separação anti-natural desse grupo de vitaminas na medicina é histórica, com a adoção de um único membro - o alfa tocoferol - para suplementação humana.
Isto mostra ser não adequado à luz das novas pesquisas, porque o alfa tocoferol isolado na terapêutica se apresenta muito vulnerável à oxidação, constituindo acúmulo do radical tocoferila - especialmente em fumantes e alcoolistas.

O complexo "E", contrariamente, apresenta estabilidade intrínseca, conferida pela interação dos seus componentes, onde os tocotrienóis preservam a integridade molecular dos tocoferóis. Na verdade, possuindo 3 insaturações na cadeia lateral - daí o nome trienóis - os tocotrienóis são mais rapidamente oxidáveis, evitando a destruição dos seus homólogos tocoferóis.

Mas, voltando ao poder anti-colesterêmico dos TOCOTRIENÓIS, diversos estudos estão provando essa pressuposição (links 3,4,5,6), identificando como mecanismo de ação o mesmo concernente às estatinas - só que com vantagem significativa: não interferem com o metabolismo muscular, mantendo estáveis as enzimas como CPK e LDH.

A meu ver, não restam mais dúvidas da aplicabilidade dos TOCOTRIENÓIS no controle da hipercolesteremia, através da prescrição do COMPLEXO "E":

Acetato de Tocoferol .............................. 200ui
Tocotrienóis ............................................ 50mg
Posologia: uma cápsula pela manhã e outra à noite.

Ah! Ia me esquecendo: pesquisas já haviam mostrado ação anti-proliferativa da lovastina e agora ratificam o efeito associando com tocotrienóis.  Vale a pena conferir (link 7).

Abraços aos amigos e ex-alunos.
Celio Mendes.

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