Pesquisar no blog

terça-feira, 2 de fevereiro de 2010

ÁCIDO FÓLICO: DOSES DE SEGURANÇA.

ÁCIDO FÓLICO

ALERTA SOBRE DOSES ELEVADAS

Ácido fólico é um nutriente essencial, não pode ser confeccionado no organismo. Sua presença nos alimentos é relativa, sendo mais relevante nos vegetais de folhas verdes – daí o nome ácido fólico. Ele tem papel relevante na gravidez, no combate à anemia e doenças cardiovasculares, replicação e reparação do DNA.
Descoberto na década de 1940, o ácido fólico não despertou tanto interesse até 1970, quando foi identificado em numerosas reações metabólicos (fígado, DNA e cérebro). Sua primeira função conhecida foi na renovação dos glóbulos vermelhos, em conjunto com a vitamina B12 - sua deficiência foi relacionada à anemia.

Uma descoberta que mudou a importância do ácido fólico foram as malformações fetais – defeitos no tubo neural – devido à sua deficiência. A sua ocorrência é nas primeiras semanas de gestação, levando a seqüelas irreversíveis (1). A partir desses dados, governos de alguns países iniciaram o enriquecimento de alimentos com o ácido fólico. Pesquisas recentes (50-51), entretanto, questionam o enriquecimento e discutem níveis de segurança para administração de ácido fólico, pois com doses elevadas observou-se aumento da incidência de câncer, especialmente em fumantes (capítulo “Ácido Fólico e Câncer”).

Ácido fólico diminui risco de malformação congênita:
Durante o VI Congresso da Sociedade de Obstetrícia e Ginecologia do Estado de São Paulo o húngaro Andrew E. Czeizel apresentou conclusões sobre a suplementação vitamínica na gravidez (2) e relatou como conseguiu provar a eficiência do ácido fólico na prevenção de defeitos do tubo neural. Sua pesquisa recebeu o Prêmio Internacional de Pesquisa Científica da Fundação Joseph P. Kennedy Jr. (prêmio oferecido a cada 5 anos, aos que contribuem para melhoria ou prevenção de doenças congênitas) (1).
Homocisteína: ácido fólico reduz o risco de doenças vasculares.
O acúmulo de homocisteína no organismo produz efeitos tóxicos e representa fator de risco independente para doença coronariana e vascular cerebral (derrames). Pesquisas recentes mostram que a hiper-homocisteinemia moderada (níveis entre >15mmol/L e 30mmol/L estão relacionadas com disfunção endotelial, infiltração celular na íntima e lesão ateromatosa. O sistema vascular cerebral parece ser mais afetado pela hiperhomocisteinemia é o cerebral, conforme os estudos publicados.
Ácido Fólico é o Principal Redutor dos Níveis de Homocisteína: entre as vitaminas do complexo “B” avaliadas na redução dos níveis de homocisteína plasmática, sem dúvida o ácido fólico tem destaque especial, face aos resultados demonstrados e contrariamente ao que se poderia imaginar ao examinarmos o metabolismo da metionina.

Ácido fólico e Câncer:
O estudo que provou ser o folato um nutriente anti-cancerígeno foi realizado por Edward Giovannucci e cols, publicado em 1998 (27). Nesta pesquisa, os autores acompanharam 88.756 enfermeiras voluntárias, durante 14 anos, avaliando a incidência de câncer de cólon e comparando os níveis de ingestão de nutrientes e folato. As voluntárias que ingeriram mais folato (>0,4mg) tiveram incidência de câncer significativamente menor. A partir daí, estudos epidemiológicos nas últimas décadas deixaram claro que o ácido fólico está entre os mais importantes nutrientes que previnem a ocorrência de câncer (28-35).
Associado ao baixo consumo de fibras, o uso constante de bebidas alcoólicas contribui para um aumento considerável no câncer gastrintestinal – o álcool é antagonista do folato (31). Os estudos mais conclusivos sobre a proteção que o folato exerce sobre o câncer são na área gastrintestinal, em especial cólon e reto. Estudo publicado em 2007 (35) confirmou os achados anteriores que mostraram maior risco de câncer de reto e cólon para os indivíduos com menor índice de ingestão de ácido fólico na dieta.
DOSES DE SEGURANÇA: doses orais elevadas (acima de 1mg/dia) podem estar relacionadas com aumento da incidência de câncer (50-51), principalmente nos pacientes que possam estar desenvolvendo algum tipo de câncer silencioso ou ainda sem diagnóstico, e também nos fumantes. Nestes casos pode haver estímulo à proliferação celular, contribuindo para agravamento do processo. É recomendável que a suplementação com ácido fólico esteja entre 0,4mg (RDA) e 0,75mg (49).
Ácido fólico na depressão:
Estudos publicados associam depressão com hiperhomocisteinemia e níveis baixos de folato (36,42,43). Embora os mecanismos bioquímicos ainda não estejam esclarecidos, é sabido que o ácido fólico participa da liberação de da serotonina, onde é cofator na forma de THF (tetrahidro folato) para a transformação do aminoácido 5-OH Triptofano em 5-OH Triptamina (serotonina). Estudos bem recentes confirmam a relação(52-53).

Suplementação: ácido fólico e ácido folínico.
Ao se administrar o ácido fólico via oral são minimizadas possíveis dificuldades de absorção do poli-pteroil glutâmico encontrado nos vegetais. A principal delas é a dependência enzimática (folato conjugase), que libera folato livre (catalisado por zinco). Com a suplementação a absorção é maior e os níveis plasmáticos sobem. Entre os fatores que melhoram a absorção do ácido fólico, além do zinco (39), citamos a vitamina “C”, cujas pesquisas indicam ser a associação bastante favorável (26).
Ácido folínico: é precursor imediato das formas ativas 5,10 METHF e 5MTHF nos tecidos extra-hepáticos, sem dependência da enzima DFH. Sua suplementação é fundamental nos pacientes com insuficiência ou doença hepática:
Doses e Posologia:
São indicadas as dosagens entre 0,4 e 0,75mg/dia, níveis seguros conforme as publicações mais recentes sobre os papéis do ácido fólico no câncer (49-51). É aconselhável associar com ácido folínico.
Não há dados sobre a segurança de doses acima de 1mg/dia de ácido fólico na gravidez.

Abraços a todos, amigos e ex-alunos.
Celio Mendes.

Prescrição Médica:
Hiper-Homocisteinemia:
Ácido fólico........................................................... 0,375mg
Vitamina B-12........................................................... 1,0mg
Posologia: 1 cápsula duas vezes ao dia, antes das refeições.
Anemias:
Ácido fólico............................................................. 0,2mg
Ferro glicina quelado .................................................. 15mg
Cobre quelado......................................................... 0,5mg
Vitamina “C” ........................................................... 100mg
Vitamina B-12............................................................. 1mg
Posologia: 1 cápsula duas vezes ao dia, antes das refeições.
Prevenção do Câncer:
Ácido fólico......................................................... 0,375mg
Ácido folínico..................................................... 0,200mg
Licopeno................................................................... 5mg
Resveratrol............................................................... 10mg
Posologia: 1 cápsula duas vezes ao dia, antes das refeições.

Referências:
1. Long-term somatic and mental development of children after periconceptional multivitamin supplementation. Czeizel AE & Dobò M - Eur J Pediatr. 1998, 157(9):719-23.
2. Hungarian cohort-controlled trial of periconceptional multivitamin supplementation shows a reduction in certain congenital abnormalities. Czeizel AE, Dobó M, Vargha P - Birth Defects Res A Clin Mol Teratol. 2004 Nov;70(11):853-61
3. Primary prevention of neural-tube defects and some other major congenital abnormalities: recommendations for the appropriate use of folic acid during pregnancy. Czeizel AE - Paediatr Drugs. 2000 Nov-Dec;2(6):437-49
4. Hyperhomocysteinemia: an independent risk factor for vascular disease. Clarke R & cols - N Engl J Med, 1991 Apr 25; 324(17):1149-55.
5. Hiper-Homocisteinemia e Doenças Vaso-Oclusivas. Bydlowski SP, Magnanelli AC, Chamone DAF - Arq Bras Cardiol, volume 71, (nº 1), 1998.
6. Coronary artery disease--free radical damage, antioxidant protection and the role of homocysteine. Maxwell SR - Basic Res Cardiol, 2000; 95 Suppl 1.
7. Analysis of Plasma Homocysteine Levels in Patients with Unstable Angina. Tavares JR & cols - Arq Bras Cardiol, 2002, vol 79 (nº 2), 167-72.
8. Metabolism of homocysteine and its relationship with cardiovascular disease. Aguilar B, Rojas JC, Collados MT - J Thromb Thrombolysis, 2004, 18(2) .
9. Moderate homocysteinemia: a possible risk factor for arteriosclerotic cerebrovascular disease. Brattstrom LE & cols. Stroke, 1984 Nov-Dec;15(6):1012-6.
10. Prospective study of serum total homocysteine concentration and risk of stroke in middle-aged British men. Perry IJ & cols – Lancet, 1995 (25); 346(8987).
11. Blood homocysteine levels in stroke patients undergoing rehabilitation. Sacher Y & cols - Med Sci Monit, 2003; 9(6): CR253-259.
12. Homocysteine and stroke: evidence on a causal link from mendelian randomisation. Casas JP & cols - Lancet, 2005 Jan 15; 365( 9455):224-32.
13. Efficacy of folic acid supplementation in stroke prevention: a meta-analysis. Wang X & cols – Lancet, 2007, 369(9576), 1876:1882.
14. Homocysteine and cognitive impairment; a case series in a General Practice setting. McCaddoA - Nutrition Journal 2006, 5:6 doi:10.1186/1475-2891-5-6 (Nutrition Journal 2006, 5:6 doi:10.1186/1475-2891-5-6 (This article is available from:
http://www.nutritionj.com/content/5/1/6).
15. Folic Acid Deficiency and Homocysteine Impair DNA Repair in Hippocampal Neurons and Sensitize Them to Amyloid Toxicity in Experimental Models of Alzheimer’s Disease. Kruman II & cols - Journal of Neuroscience, March 1, 2002, 22(5):1752–1762.
16. Folate, DNA stability and colo-rectal neoplasia. Duthie SJ, Narayanan S, Sharp L, Little J, Basten G, Powers H - Proc Nutr Soc. 2004 Nov;63(4):571-8.
17. Effects of folate deficiency on gene expression in the apoptosis and cancer pathways in colon cancer cells. Novakovic P, Stempak JM, Sohn KJ, Kim YI - Carcinogenesis. 2006 May;27(5):916-24.
18. Roles and causes of abnormal DNA methylation in gastrointestinal cancers. Suzuki H, Toyota M, Sato H, Sonoda T, Sakauchi F, Mori M - Asian Pac J Cancer Prev. 2006 Apr-Jun;7(2):177-85.
19. Homocysteine and folate metabolism in depression. Bottiglieri T - Prog Neuropsychopharmacol Biol Psychiatry, 2005 Sep;29(7):1103-12.
20. Serum folate and homocysteine levels in patients with obsessive-compulsive disorder. Atmaca M, Tezcan E, Kuloglu M, Kirtas O, Ustundag B - Psychiatry Clin Neurosci, 2005 Oct;59(5):616-620.
21. Folate and cancer prevention: a closer look at a complex picture. Cornelia M Ulrich - Am J Clin Nutr 2007;86:271–3.
22. Cancer Incidence and Mortality After Treatment With Folic Acid and Vitamin B12. Ebbing M & cols - JAMA, November 18, 2009—Vol 302, No. 19.
23. Folate in depression: efficacy, safety, differences in formulations, and clinical issues. Fava M, Mischoulon D – J Clin Psychiatry. 2009;70 Suppl 5:12-7.
24. Serum folate and homocysteine and depressive symptoms among Japanese men and women. Nanri A & cols – Eur J Clin Nutr. 2010 Jan 20.

Nenhum comentário:

Postar um comentário