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quarta-feira, 24 de fevereiro de 2010

Res Cons Fed Med 1938/10 - Med Ortomolecular (1)

Como havia prometido aos meus alunos e ex-alunos que me contatam diariamente por E-mail, e que são numerosos desde a época do IMO (1992) com meu querido mestre Prof. Helion Póvoa, passando pelos Congressos de Medicina Ortomolecular (1991-2000) e agora na Universidade Veiga de Almeida (coordenação do Prof. Walter Taam), fiz uma análise técnica da Resolução que dispõe mudanças sobre a Medicina Ortomolecular. Aí vai:

  1. É muito oportuna a revisão da Resolução anterior (1500/98). Nesta Resolução 1938/2010 a abordagem me pareceu mais correta, filosófica e tecnicamente.
  2. Entretanto, há alguns aspectos que podem ser questionados. O primeiro deles se encontra enunciado no "Considerando" nº 8. Pessoalmente discordo da afirmação de que há dificuldade na transposição de dados de experimentações animais (...) para a clínica diária.
  3. Se assim o fôsse o embasamento farmacológico que permitiu o desenvolvimento de novos fármacos de 1910 até 1980 não teria mostrado valor, e sabemos, na prática, que isso não é verdade.
  4. Os testes com animais apontam - e apontaram - com bastante acerto o comportamento de um fármaco (ou veneno!) no ser humano, inclusive com coeficientes matemáticos calculados com precisão para estabelecimento das LOAEL (low oral adverse effect level) e NOAEL (no oral adverse effect level), parâmetros fundamentais para avaliação de risco de qualquer substância química, inclusive medicamentos.
  5. As LOAEL e NOAEL são estabelecidas, na maior parte, com base nos dados com animais, complementada com dados humanos, quando disponíveis. São elaboradas pela Environmental Protection Agency (EPA) e publicadas pela National Academic Press, dos EUA, admitidas como referências neste campo.
  6. Por outro lado, a literatura médica apresenta incomensurável volume de estudos de prospecção terapêutica, seja com nutracêuticos ou fármacos, embasados em estudos animais. Principalmente considerando que, antes dos anos 1970, os estudos clínicos com humanos eram pouco disponíveis. Essa mesma literatura prova CABALMENTE que patologias humanas (ex: ateroesclerose, osteoporose, doenças hepáticas, etc...) são perfeitamente reproduzíveis em animais, mediante as mesmas condições etiológicas!
  7. Existiram exceções na história, uma delas registrada com pesar, como o caso da talidomida. Neste episódio a ciência adicionou ao seu conhecimento o fato de que ratos e camundongos são muito resistentes à teratogênese por agentes químicos: neles a droga não havia revelado esses efeitos. Há controvérsias, entretanto, sobre a metodologia adotada naquela ocasião, especialmente no que tange ao número de animais utilizado.
  8. De qualquer maneira, sabe-se a partir daí que outros animais mostram sinais de teratogênse compatíveis com análise de risco para humanos: coelhos e, confirmatoriamente, primatas (chimpanzés).
  9. Além disso a Farmacologia serve-se ainda dos experimentos animais para: 1) definição de indicações terapêuticas de uma nova droga, (2) orientação das doses a serem utilizadas nos experimentos clínicos com humanos.
  10. No passsado recente esta mesma ciência serviu-se dos estudos com animais para estabelecimento direto das doses para uso humano (e com bastante precisão!). Quase um século de Terapêutica Médica foi embasado nos experimentos com animais, obtendo-se na clínica resultados muito satisfatórios!
  11. Bem ao contrário (embora excepcionalmente), estudos com HUMANOS também mostraram resultados inesperados na clínica diária, como os casos dos fármacos CERIVASTATINA, ETORICOXIBE e ROFECOXIBE. Estes medicamentos, que passaram por apurados experimentos clínicos em humanos, apresentaram na CLÍNICA DIÁRIA efeitos colaterais graves que levaram à morte diversos pacientes.
  12. Assim, pelo exposto e muito mais ainda que o espaço não torna exequível publicar aqui, permito-me discordar do "Considerando" nº 8.
Amanhã continuaremos a análise, agora do corpo de texto da citada Resolução.


Celio Mendes.

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